E enfim eu fui ver algo que eu esperava há mais ou menos uns dois anos: Os 300 de Esparta, ou, como acaba de ficar popular, simplesmente 300.
Quem me conhece vai logo fazer a pergunta clássica: "É fiel ao quadrinho?" e todas as suas variações: "é bom, é melhor ou pior, os atores calharam certo dessa vez, o Santoro dá conta do recado, as imagens são perfeitas?"
Irrelevante. É de longe a melhor adaptação de uma história em quadrinhos já feita. A fidelidade beira o impossível, (pecando apenas pelo tom politicamente correto que permeia o filme todo, mas eu já explico por quê isso pode ser deixado para trás). O autor, Frank Miller, que me perdoe, mas nem ele mesmo adaptou tão bem uma história sua em Sin City quanto Zack Snider com o 300. E olha que Sin City era até agora minha campeã em fidelidade.
Em fidelidade mas não em cinema. 300 consegue a proeza de ser fiel na medida do possível, acrescentar aqueles pedaços que nós colocávamos entre uma cena e outra, funcionar como cinema e não deixar a mensagem esvanecer.
A acusação iraniana de que o filme foi feito agora para falar mal dos persas esbarra em uma coisa óbvia. Não é uma aula de história. Mesmo supondo que 300 espartanos tenham realmente defendido com alguma utilidade o desfiladeiro das termópilas, o que se passa no quadrinhyo não é factual ao extremo. Na verdade, pode ser entendido como mais uma vela na escuridão contra as limitações que o homem coloca a si mesmo a título de espiritualidade, ou sistemas de governo.
Americanos rejubilam-se com a palavra democracia e os espartanos não eram exatamente o que nós chamamos de democráticos? Sim. Os persas não tinham monstros deformados e reis divinizados em batalha? Sim. O filme pode ser visto como uma mensagem política contra teocracias? Sim, e aí os americanos atiram no próprio pé, pois o presidente deles é um dos que levam a bíblia para o campo das leis. O Irã pode se unir aos americanos para protestarem.
Mas o que importa é que os espartanos foram o povo mais durão de todos os tempos. Se alguém poderia ter feito aquilo, foram eles. E Gerard Butler está fantástico como o personagem em quadrinhos mais bem desenhado de todos os filmes. Ele é um desenho ambulante.
E sim, o Santoro foi manipulado digitalmente. Ele não tem dois metros de altura.
E para quem gosta de sangue, é um prato cheio.
Ele tem milhões de defeitos preconceituosos para quem está na onda do politicamente correto. A minha crítica favorita não gostou nada disso (vejam o que ela diz: http://www.lost.art.br/lola_300.htm). Mas eles atenuam até a medula o original. Sem perder a dureza, O rei agora sugere ao corcunda que ele ajude longe da batalha, a rainha tem papel importante, Xerxes não é negro, e os soldados de Esparta não apanham dos outros soldados de Esparta quanto demonstram fraqueza. Isso é ceder ao gosto do grande público, mas se do jeito que está ele já vai sofrer com os mau-humorados críticos do politicamente correto (e lembrando que dois mil anos atrás toda guerra era étnica) Imaginem se o Leônidas despacha o corcunda pro Hades por ele ser disforme. Como ERA o costume de Esparta.
Em suma, não levem mocinhas que se digam virginais ou senhoras conservadoras, não levem intelectualóides e homens de terno e gravata, e assistam sem medo, divirtam-se muito em plena catarse, e lembrem que os bichos são de computação gráfica.
E depois da sessão, quero ver quem não acha que Esparta tinha uma ou duas vantagens sobre o Brasil.
Depositário de comentários, sede do caos, falta do que fazer e onde mostrar, outdoor ao inverso e convite ao velho e bom papo de bar. Tudo isso e mais um pouco de Vida e Cenas, e história a contar.
3.4.07
27.3.07
Há mais na vida de um biólogo do que ratos.
Dizem que todo biólogo tem sua cota de ratos para matar. Seja fazendo experimentos em um laboratório, seja desratizando algum lugar. Também há a parte de controle agronômico, experimentos de comportamento, feitura de vacinas e exames de inoculação. Eu sou diretamente responsável pela morte de milhares de ratos, através das mãos de uma equipe e mais uns tantos que serviram de alimento a aves de rapina, lagartos, tartarugas carnívoras, jacarés, cobras e urubus, mas não só bichos estranhos. Raposas, cachorros do mato, gatos-maracajá/palheiro/do mato/pescador, tudo come roedor.
Por isso eles reproduzem tanto. Já pensou sustentar essa filharada toda? Ou manter a espécie sem essa filharada?? Mas ratos são dignos de admiração por vários aspectos. Nada que não se possa superar quando pensamos no quão pestilentos eles podem ser fora do biotério.
Mas há mais na vida de um biólogo do que ratos.
Boa parte de tudo que se faz para defender a vida nesse planeta passa por superar os instintos mais baixos, vis e imbecis dos humanos. Explicar que não se come uma espécie em extinção. Que florestas são necessárias para a correta manutenção dos níveis ambientais equilibrados de nossa sobrevivência. Que não se trafica sagüi para que uma criança apalermada e mimada possa ter um brinquedo, a ser jogado fora quando der sua primeira mordida apavorado com aquilo tudo.
Pensando bem, prefiro ratos. A gente ensina uma vez, e eles aprendem. A gente sabe o que eles vão fazer, e nunca, mas nunca mesmo, eles serão ignorantes abaixo da média dos outros ratos. E mais ainda, eles não destroem por luxo.
Há mais na vida que lidar com esses seres sinistros, os humanos?
Dizem que todo biólogo tem sua cota de ratos para matar. Seja fazendo experimentos em um laboratório, seja desratizando algum lugar. Também há a parte de controle agronômico, experimentos de comportamento, feitura de vacinas e exames de inoculação. Eu sou diretamente responsável pela morte de milhares de ratos, através das mãos de uma equipe e mais uns tantos que serviram de alimento a aves de rapina, lagartos, tartarugas carnívoras, jacarés, cobras e urubus, mas não só bichos estranhos. Raposas, cachorros do mato, gatos-maracajá/palheiro/do mato/pescador, tudo come roedor.
Por isso eles reproduzem tanto. Já pensou sustentar essa filharada toda? Ou manter a espécie sem essa filharada?? Mas ratos são dignos de admiração por vários aspectos. Nada que não se possa superar quando pensamos no quão pestilentos eles podem ser fora do biotério.
Mas há mais na vida de um biólogo do que ratos.
Boa parte de tudo que se faz para defender a vida nesse planeta passa por superar os instintos mais baixos, vis e imbecis dos humanos. Explicar que não se come uma espécie em extinção. Que florestas são necessárias para a correta manutenção dos níveis ambientais equilibrados de nossa sobrevivência. Que não se trafica sagüi para que uma criança apalermada e mimada possa ter um brinquedo, a ser jogado fora quando der sua primeira mordida apavorado com aquilo tudo.
Pensando bem, prefiro ratos. A gente ensina uma vez, e eles aprendem. A gente sabe o que eles vão fazer, e nunca, mas nunca mesmo, eles serão ignorantes abaixo da média dos outros ratos. E mais ainda, eles não destroem por luxo.
Há mais na vida que lidar com esses seres sinistros, os humanos?
19.3.07
REMINISCÊNCIAS
Atenção, é raro algo pessoal postado por aqui, então não me responsabilizo por nada ou ninguém.
Como se eu pudesse. Vamos lá.
Quem já ouviu "American Pie"? É uma música, a única conhecida, de Don McLean, um ótimo compositor de folk-rock (seja lá o que for rótulo) . Fala basicamente daquela sensação de desespero Beat e do dia em que a música morreu. A maioria das interpretações não vai mais fundo do que falar do dia em que o rock era uma coisinha meiga e pura e que teria tido um fim simbólico um pouquinho antes dos dias de rebeldia sem causa e viagens além mundinho limitado.
Este dia teria sido o dia em que um avião caiu com Buddy Holly, Ritchie Valens (ou Ricardo "La bamba" Valenzuela, o primeiro astro latino pop que se tem notícia) e JP "Big Bopper" Richardson.
Três precursores do rock que conhecemos e de fato símbolos do rock antes do estouro rebelde da contracultura.
Por quê uma música que além disso tudo e cheia de referências a outros momentos pop macabros (os terríveis Rolling Stones, a fatídica "Helter Skelter" dos Beatles, dentre outras menos conhecidas) buzinou na minha cabeça por tanto tempo?
Quando eu comecei a mergulhar no "rock-mundo" que me abarca, comecei pelo óbvio: aquilo que tinha em casa. quantidades estratosféricas de Little Richard (eu tinha algo em comum?), Jerry Lee Lewis, Beatles (da fase inicial), Chuck Berry e o rei, Elvis (cujo dia de nascimento é o mesmo que o meu).
Na minha atual fase de me entender, quando o passado dói, o futuro merece um lustro e o presente está muito chato, onde a gente vai buscar entendimento? No que já rolou. E repentino, tenho um aniversário de gente ressuscitada de um passado distante, que misteriosamente se torna presente e importante, e em uma casa rocambole! (o rockabilly tem apelido aqui em casa).
Além da companhia genial, dos risos de ter que aprender a dançar com os professores da casa e da raiva de não conhecer o lugar antes, algo brotou aqui dentro. algo que apagou American Pie e fez com que eu parasse de reclamar que o passado parecia mais divertido. O passado é agora, o hoje vai parecer mais divertido amanhã. Eu ainda vou dançar twist pela casa com uma vassoura aos noventa anos.
E no dia seguinte, eu e a Luciana em mais uma daquelas noites de atualizações da vida, acabamos por descobrir que apesar de nos conhecermos há uns 15 anos e nos falarmos quase que semanalmente há uns seis ainda temos um monte de coisas que não fazemos a mínima um do outro. O passado não existe.
Quer saber? fazendo uma citação, xarope anti-monotonia nunca é demais.
E acho que eu preciso voltar a ser mais noturno...
"Roll over Bethoven!"
Como se eu pudesse. Vamos lá.
Quem já ouviu "American Pie"? É uma música, a única conhecida, de Don McLean, um ótimo compositor de folk-rock (seja lá o que for rótulo) . Fala basicamente daquela sensação de desespero Beat e do dia em que a música morreu. A maioria das interpretações não vai mais fundo do que falar do dia em que o rock era uma coisinha meiga e pura e que teria tido um fim simbólico um pouquinho antes dos dias de rebeldia sem causa e viagens além mundinho limitado.
Este dia teria sido o dia em que um avião caiu com Buddy Holly, Ritchie Valens (ou Ricardo "La bamba" Valenzuela, o primeiro astro latino pop que se tem notícia) e JP "Big Bopper" Richardson.
Três precursores do rock que conhecemos e de fato símbolos do rock antes do estouro rebelde da contracultura.
Por quê uma música que além disso tudo e cheia de referências a outros momentos pop macabros (os terríveis Rolling Stones, a fatídica "Helter Skelter" dos Beatles, dentre outras menos conhecidas) buzinou na minha cabeça por tanto tempo?
Quando eu comecei a mergulhar no "rock-mundo" que me abarca, comecei pelo óbvio: aquilo que tinha em casa. quantidades estratosféricas de Little Richard (eu tinha algo em comum?), Jerry Lee Lewis, Beatles (da fase inicial), Chuck Berry e o rei, Elvis (cujo dia de nascimento é o mesmo que o meu).
Na minha atual fase de me entender, quando o passado dói, o futuro merece um lustro e o presente está muito chato, onde a gente vai buscar entendimento? No que já rolou. E repentino, tenho um aniversário de gente ressuscitada de um passado distante, que misteriosamente se torna presente e importante, e em uma casa rocambole! (o rockabilly tem apelido aqui em casa).
Além da companhia genial, dos risos de ter que aprender a dançar com os professores da casa e da raiva de não conhecer o lugar antes, algo brotou aqui dentro. algo que apagou American Pie e fez com que eu parasse de reclamar que o passado parecia mais divertido. O passado é agora, o hoje vai parecer mais divertido amanhã. Eu ainda vou dançar twist pela casa com uma vassoura aos noventa anos.
E no dia seguinte, eu e a Luciana em mais uma daquelas noites de atualizações da vida, acabamos por descobrir que apesar de nos conhecermos há uns 15 anos e nos falarmos quase que semanalmente há uns seis ainda temos um monte de coisas que não fazemos a mínima um do outro. O passado não existe.
Quer saber? fazendo uma citação, xarope anti-monotonia nunca é demais.
E acho que eu preciso voltar a ser mais noturno...
"Roll over Bethoven!"
10.3.07
Um jantar, ossos e liberdade criativa
Neste exato momento estão subindo os créditos de “Adivinhe quem vem para jantar”, o clássico de 1967 que fez de Sidney Poitier um astro, coroou mais uma vez as carreiras de Spencer Tracy e Katherine Hepburn e trouxe para a tela grande do mainstream a questão racial em technicores muito além do preto e branco.
A despeito de ser um ótimo filme, atual até mesmo no ritmo (que é normalmente o grande empecilho para a maioria das pessoas não-acostumadas ao cinema clássico e viciadas nos fliperamas atuais) e das atuações “actor´s studios” primorosas, ele é um dos grandes exemplos do roteiro planejado de cima abaixo para atingir seus objetivos, isto é, passar uma mensagem específica.
Protagonista, antagonista, situação, influências externas, personalidades, todas são montadas minuciosamente para, no discursivo (na época era necessário) gran-finale, ninguém ficar na dúvida sobre a moral da história.
Preste atenção: nada é coincidência ou acaso. Cada caracter é parte do quebra-cabeça. Cada profissão ou opinião é simbólica. Não fica uma farpa injustificada em todo o filme.
Isso normalmente nasce daquilo que eu comparo com a montagem de um aeromodelo dramático: colocamos a estrutura, acrescentamos motores, laterais, rodas, pintura, hélice, gasolina e só depois botamos o troço para funcionar.
Se você está aqui sabe que eu escrevo. Muito. De tudo. Mas eu escrevo de outra maneira. E, sem desmerecer o roteirista de “Adivinhe...” ou quase todos os seus colegas atuais do cinemão, eu considero uma forma de escrever muito pouco orgânica para o meu gosto.
Eu estudo vida. Meus paralelos quanto ao que chamo de orgânico Vs o mecanizado, automático, robótico são imensos. O esqueleto surgiu na evolução muito depois dos primeiros corações batendo. A pele surgiu depois da respiração. As cores vieram depois da digestão. A vida uterina já funciona quando nem a chamamos assim ainda.
As histórias nascem em caldeirões de protoplasma, sangue e ossos. Elas pulsam e cheiram mal e soltam sujeira pelo carpete. Seus personagens brotam do solo humoso como vermes já independentes, cegos e simples, comendo, babando e respirando.
O esqueleto aparece depois.
Quando começo a escrever, estou nadando na liberdade. Os fatos, o que aconteceu com aqueles personagens pulsa e se lança contra minha consciência. Arremetem até se esgarçar contra as paredes da lógica. Quando o caos primordial passa, e tudo já está lá, e a história já respira por conta própria e consegue se sustentar, se alimentar e interagir com o ambiente externo, tirando dele o que precisa e jogando o que já digeriu, é só então que aparece-lhe esqueleto, pele, músculos. E o verme começa a caminhar para ser um ente complexo.
Histórias nascem nas mentes, não são montadas como máquinas.
A despeito de ser um ótimo filme, atual até mesmo no ritmo (que é normalmente o grande empecilho para a maioria das pessoas não-acostumadas ao cinema clássico e viciadas nos fliperamas atuais) e das atuações “actor´s studios” primorosas, ele é um dos grandes exemplos do roteiro planejado de cima abaixo para atingir seus objetivos, isto é, passar uma mensagem específica.
Protagonista, antagonista, situação, influências externas, personalidades, todas são montadas minuciosamente para, no discursivo (na época era necessário) gran-finale, ninguém ficar na dúvida sobre a moral da história.
Preste atenção: nada é coincidência ou acaso. Cada caracter é parte do quebra-cabeça. Cada profissão ou opinião é simbólica. Não fica uma farpa injustificada em todo o filme.
Isso normalmente nasce daquilo que eu comparo com a montagem de um aeromodelo dramático: colocamos a estrutura, acrescentamos motores, laterais, rodas, pintura, hélice, gasolina e só depois botamos o troço para funcionar.
Se você está aqui sabe que eu escrevo. Muito. De tudo. Mas eu escrevo de outra maneira. E, sem desmerecer o roteirista de “Adivinhe...” ou quase todos os seus colegas atuais do cinemão, eu considero uma forma de escrever muito pouco orgânica para o meu gosto.
Eu estudo vida. Meus paralelos quanto ao que chamo de orgânico Vs o mecanizado, automático, robótico são imensos. O esqueleto surgiu na evolução muito depois dos primeiros corações batendo. A pele surgiu depois da respiração. As cores vieram depois da digestão. A vida uterina já funciona quando nem a chamamos assim ainda.
As histórias nascem em caldeirões de protoplasma, sangue e ossos. Elas pulsam e cheiram mal e soltam sujeira pelo carpete. Seus personagens brotam do solo humoso como vermes já independentes, cegos e simples, comendo, babando e respirando.
O esqueleto aparece depois.
Quando começo a escrever, estou nadando na liberdade. Os fatos, o que aconteceu com aqueles personagens pulsa e se lança contra minha consciência. Arremetem até se esgarçar contra as paredes da lógica. Quando o caos primordial passa, e tudo já está lá, e a história já respira por conta própria e consegue se sustentar, se alimentar e interagir com o ambiente externo, tirando dele o que precisa e jogando o que já digeriu, é só então que aparece-lhe esqueleto, pele, músculos. E o verme começa a caminhar para ser um ente complexo.
Histórias nascem nas mentes, não são montadas como máquinas.
20.1.07
O ROCK´N´ROLL ESTÁ VIVO
Houve quem dissesse que o rock estava morto ou, no mínimo, errou.
Se tem algo a que eu sou eternamente grato é ao monte de músicas que minha irmã espremeu no computador. Até elas brotarem lá, vindas sabe-se lá de que balada, de que bares obscuros da noite Paulista, eu estava imerso em um cemitério, saudando os poucos e vagos ecos que vez ou outra vinham do Pearl Jam ou U2. Meu gosto musical necrófago passeava com novidades retumbantes como Red Hot Chilly Peppers ou, chutando altíssimo, Prodigy, de quem eu conhecia uma ou outra música.
Não ajudava o fato de que o século, o milênio começou com uma onda saudosista de quando? Dos meus amados anos de infância, famigerados 80´s. Claro que é fácil ser badalado nesta primeira década do século. Basta ter mais de trinta e lembrar de desenhos antigos, de qualquer coisa com cara fofa que emos usem estampado na bolsa e uma dose e tanto daquilo que era reconhecida, escancarada e hilariantemente exagerado. Você lembra do Supla arrotando no programa da Hebe com a sua banda, a Tókio? Você é bom! Você sabe que o B52´s veio ao Brasil em 1985? Você é um mestre. Você viu o Nirvana no palco? Você é um deus! E eu me encaixo nisso tudo.
E para não dizer daquilo que faz o estofo musical da minha vida. Todos morreram antes ou logo depois que eu nasci. Jim Morrison, Janis Joplin, John Lennon, Elvis Presley, Jimmy Hendrix e por aí vai. Mais uma tonelada de bandas cujos membros já poderiam ter pedido aposentadoria no nosso sistema previdenciário. Stones, Purple, Maiden, Chuck Berry, AC/DC, Scorpions e por aí vai.
E de repente, estou passeando pelo modo aleatório do player e me deparo com Yeah Yeah Yeah´s! Que surto! Eu já vinha sendo preparado de leve com Franz Ferdinand, Pitty, Strokes e White Stripes, mas nada me deixou pronto para ouvir essa banda de nome nada a ver e onomatopéico.
E depois. O som redivivo das Runaways nas Donnas, a regravação ultrasexy de “My Sharona” pelo Veruca Salt (quem lembra o que acontecia com a Veruca Salt da fantástica Fábrica de Chocolates original?) ou a alegria-guitarra-e-som-na-garagem-da- vovó de Motores? E o que é aquilo que toca o povo do Vive la Fete e o Le Tigre? Até bandas já conhecidas tinham sons mais estranhos, como Garbage ou o maluco de cartilha oitentista Marilyn Manson. Mas não me peça para reconsiderar o funk...
Adianta chorar pelo passado? Será que dá para, a esta altura, exigir que uma dessas bandas seja boa para meus ouvidos como é Creedence Clearwater Revival? Treinado, condicionado, minha audição jamais saberá entender Placebo. Mas Placebo é chato. Mas será que vou entender o que raios é o já velhinho Radiohead? E Plastics? E Cansei de Ser Sexy? Peaches? Dominatrix?
Não, admito que jamais verei a genialidade delas, embora isso ainda não tenha tido oportunidade. Meus padrões sabem que independentemente do jeito totalmente diferente de fazer música, ainda não saiu dessa geração nada que se compare a “Misty Mountain Hop” ou “Time”. É bom? Pode até ser, mas é mais ou menos como apreciar comida japonesa. Você pode saber se é gostoso ou não, e até comparar pratos e saber qual cozinheiro faz algo melhor, mas nunca saberá exatamente o quanto já que seu paladar parte do bife com fritas para julgar.
Mas isso não faz com que sushi não possa ser seu prato principal. Isso não impede que eu possa sair honrar meus mortos e ir lá aprender a apreciar essa gente viva e boa pra cacete que está tocando agora em lugares que eu não fui e em rádios que não existem. A melhor música não passava nas rádios, hoje e sempre, até que alguém com mais de trinta tenha ido lá e desbravado.
Long Live Rock´n´Roll! We still crazy after all this years!
Se tem algo a que eu sou eternamente grato é ao monte de músicas que minha irmã espremeu no computador. Até elas brotarem lá, vindas sabe-se lá de que balada, de que bares obscuros da noite Paulista, eu estava imerso em um cemitério, saudando os poucos e vagos ecos que vez ou outra vinham do Pearl Jam ou U2. Meu gosto musical necrófago passeava com novidades retumbantes como Red Hot Chilly Peppers ou, chutando altíssimo, Prodigy, de quem eu conhecia uma ou outra música.
Não ajudava o fato de que o século, o milênio começou com uma onda saudosista de quando? Dos meus amados anos de infância, famigerados 80´s. Claro que é fácil ser badalado nesta primeira década do século. Basta ter mais de trinta e lembrar de desenhos antigos, de qualquer coisa com cara fofa que emos usem estampado na bolsa e uma dose e tanto daquilo que era reconhecida, escancarada e hilariantemente exagerado. Você lembra do Supla arrotando no programa da Hebe com a sua banda, a Tókio? Você é bom! Você sabe que o B52´s veio ao Brasil em 1985? Você é um mestre. Você viu o Nirvana no palco? Você é um deus! E eu me encaixo nisso tudo.
E para não dizer daquilo que faz o estofo musical da minha vida. Todos morreram antes ou logo depois que eu nasci. Jim Morrison, Janis Joplin, John Lennon, Elvis Presley, Jimmy Hendrix e por aí vai. Mais uma tonelada de bandas cujos membros já poderiam ter pedido aposentadoria no nosso sistema previdenciário. Stones, Purple, Maiden, Chuck Berry, AC/DC, Scorpions e por aí vai.
E de repente, estou passeando pelo modo aleatório do player e me deparo com Yeah Yeah Yeah´s! Que surto! Eu já vinha sendo preparado de leve com Franz Ferdinand, Pitty, Strokes e White Stripes, mas nada me deixou pronto para ouvir essa banda de nome nada a ver e onomatopéico.
E depois. O som redivivo das Runaways nas Donnas, a regravação ultrasexy de “My Sharona” pelo Veruca Salt (quem lembra o que acontecia com a Veruca Salt da fantástica Fábrica de Chocolates original?) ou a alegria-guitarra-e-som-na-garagem-da- vovó de Motores? E o que é aquilo que toca o povo do Vive la Fete e o Le Tigre? Até bandas já conhecidas tinham sons mais estranhos, como Garbage ou o maluco de cartilha oitentista Marilyn Manson. Mas não me peça para reconsiderar o funk...
Adianta chorar pelo passado? Será que dá para, a esta altura, exigir que uma dessas bandas seja boa para meus ouvidos como é Creedence Clearwater Revival? Treinado, condicionado, minha audição jamais saberá entender Placebo. Mas Placebo é chato. Mas será que vou entender o que raios é o já velhinho Radiohead? E Plastics? E Cansei de Ser Sexy? Peaches? Dominatrix?
Não, admito que jamais verei a genialidade delas, embora isso ainda não tenha tido oportunidade. Meus padrões sabem que independentemente do jeito totalmente diferente de fazer música, ainda não saiu dessa geração nada que se compare a “Misty Mountain Hop” ou “Time”. É bom? Pode até ser, mas é mais ou menos como apreciar comida japonesa. Você pode saber se é gostoso ou não, e até comparar pratos e saber qual cozinheiro faz algo melhor, mas nunca saberá exatamente o quanto já que seu paladar parte do bife com fritas para julgar.
Mas isso não faz com que sushi não possa ser seu prato principal. Isso não impede que eu possa sair honrar meus mortos e ir lá aprender a apreciar essa gente viva e boa pra cacete que está tocando agora em lugares que eu não fui e em rádios que não existem. A melhor música não passava nas rádios, hoje e sempre, até que alguém com mais de trinta tenha ido lá e desbravado.
Long Live Rock´n´Roll! We still crazy after all this years!
2.12.06
FILMES PERFEITOS - OS ANOS OITENTA
Muito já se falou acerca da pasteurização do cinema que se iniciou quando George Lucas lançou “Guerra nas estrelas”. Tentam colocá-lo em uma onda que se iniciou em “O poderoso chefão” e que vem até os dias de hoje de filmes que faturam horrores e muitas vezes não dizem nada. Claro que os dois exemplares citados acima são ricos em leituras e funcionam tanto como arrasa-quarteirões como também como cinema.
Ms houve um momento em que o cinema entendeu que podia contar as histórias que todos queriam sem se preocupar em parecer burro demais ou agradar a academia. São aqueles no limiar entre a melhor coisa para se fazer como trabalho de filosofia e melhor coisa para se ver na sessão da tarde. Os filmes perfeitos.
Muita gente vai discordar, apelar para a velha Hollywood e evocar os nomes sagrados do cinema sério, e provavelmente ninguém se dá conta dos inúmeros significados inseridos neles. Mas vamos á lista e vocês entenderão de quem estou falando. Enquanto isso, torçamos para que a bilheteria deixe de ser tão predominante e voltem a arriscar alguns milhõezinhos de dólares (nem são tantos, nada de novos “Titanics”) para voltar a ver filmes como estes nas telonas. E não liguem: não há ordem. Não há hierarquia na perfeição!
“Curtindo a vida adoidado” : Alguém mais acha que Ferris Bueller é o novo Prometeu? Ninguém nunca sonhou em dirigir uma Ferrari com o melhor amigo e a Mia Sara do lado e tocar uma zona na cidade inteira? Nada é melhor que isso para sair da deprê! E ainda tem a glória em música de reapresentar “Twist and Shout” a toda uma geração.
“Indiana Jones e o templo da perdição” e “Os caçadores da arca perdida” : Começa com a Música que remete qualquer um a outro universo. A obra prima de John Willians toca imediatamente nos ouvidos quando ouvimos a palavra “aventura”. Injeção de adrenalina com aula de mitologia e história oculta, muito antes dos passos de pato do “Código da Vinci”. Onde aprendemos o que é a saga do herói mítico. O terceiro filme (ou colocado? “A última cruzada”) até se esforça, mas não chega aos pés dos primeiros. Se aventura tem nome, todos aprenderam ao ver Harrison Ford pela primeira vez a estalar um chicote.
“O clube dos cinco” : Também conhecido como “o melhor jeito de fazer um filme custando uma bagatela com um bando de amigos, uma pusta idéia na cabeça e metade dos pesadelos, sonhos e visões de mundo da adolescência universal”. Além de tudo isso, tem a Música mais gritável no topo de uma montanha de peito nu na ventania de todos os tempos: “Don´t you (forget about me)”.
“Aliens, o resgate” : O melhor filme de ação de todos os tempos? Talvez. Uma criatura biologicamente bem bolada, horrivelmente verossímil, uma mãe protegendo a cria de cada lado, o padrão de personagens de filme de ação copiado por todos a partir de então (o covarde, o burocrata traidor, o comandante durão, a durona, o técnico, o legal...), e uma inspiradíssima Sigourney Weaver arrastando o elenco nas costas. Tem ainda o mérito de uma rara continuação que não envergonha o original. Além, é claro, da mais fria e tensa Música tema para um filme. Igualmente copiada à exaustão.
“Footloose” : A síntese do espírito. Conservadorismo americano mostrado como é e a receita de como irritar gente entorpecida pelo comodismo. A jornada para trazer o novo, em versão que ninguém podia resistir à vontade de sair pulando. A música-título ainda é esperada nas pistas de dança do mundo todo, e desbanca qualquer outra.
Qualquer uma das comédias românticas da Molly Ringwald e do Patrick Dempsey : para citar alguns, vamos a “Gatinhas e gatões” e “Namorada de aluguel”. Ambos simples de doer, mas tudo de que você precisa para desopilar o fígado e entender um pouco de como a mente humana começa a trabalhar. E quem não tirou sarro da “dança do tamanduá africano” nunca foi humano.
“Predador” : Arnold Schwarzenneger fez pelo menos um filme insuperável na vida. Até por que desta vez um diretor manteve-o abaixo da escala da história, o que infelizmente não se repetiu. Aqui, ele é o coadjuvante de uma história sobre o medo mais supremo do homem: o de virar caça. E do quão necessário é andar de mãos dadas com nossa natureza primordial.
Calma. Com sorte, o seu preferido ainda vai aparecer aqui.
“Goonies” : Outro fora da escala da perfeição. Toda criança, se tiver espaço, vai ser um goonie. Vai sonhar e encontrar tesouros e piratas pelo seu mundinho. Vai ser capaz de manter-se firme em sua bem-aventurança mesmo quando acontecem aquelas coisas que a trazem ao mundo adulto. Melhor ainda se tiverem um Slot para cuidar delas e tiverem a hilária Música da Cindy Lauper “Goonies ´r´ good enough”.
“Os garotos perdidos” : Sabe toda a onda de vampiros adolescentes, góticos e poderosos? Veio daqui e cai por terra antes da metade do filme. Com the Doors na caixa (e a Música-resumo do filme é a regravação fantástica do Echo and the Bunnymen de “People are strange”), os vampiros mostram sua pior face antes mesmo de acabarmos de admirar aquela vida idílica de imortalidade e sangue. E claro, lá estão as estacas e uma boa idéia.
“Conta comigo” : Outro com Corey Feldmann, o moleque mais freqüente dessa lista. Ninguém acredita, mas é baseado em um conto do Stephen King. E se três garotos podem fazer seu ritual de iniciação à vida adulta apenas com o desejo de provar a si mesmos que podem ver uma coisa do mundo da violência, e ao mesmo tempo essa história ser contada com inacreditável sensibilidade, então, somos todos capazes disso. E nem precisa lembrar da Música título (“Stand by me”) para chorar.
“Em algum lugar do passado” : Romântico até a diabete, mas imperdível, traz o Amor trovadoresco até nossos pés e depois nos joga dentro dele sem ao menos nos apercebermos que, não importa o que aconteça, queríamos sentir aquilo nem que seja por um segundo. E além disso, traz o Christopher Reeve em outro tipo de super-homem.
“A pequena loja dos horrores” : Uma característica desta lista é a originalidade. Neste quesito este filme que é uma regravação se enquadra, por perverter um filme “B” dos anos cinqüenta e transformá-lo em um “terrir” musical da Broadway delicioso e de morrer de rir. Merecia ser mais conhecido, nem que seja apenas para ver Steve Martin no papel do dentista sádico. Mas uma planta cantando com uma voz da Motown também é único! (Não sabe o que foi a gravadora Motown? Vai aprender!).
“Irmão Sol, Irmã Lua” : Você nunca viu esse na sessão da tarde? Não é para menos. Mergulhos tão abissais na mente da espiritualidade ocidental não saem impunes do cinema. Tudo que um dia você pensou que estava no coração do Dalai-lama ou de madre Teresa de Calcutá, em uma versão belissimamente dirigida.
“De volta para o futuro” : Fala, você também queria ir lá e ver seus pais como eram quando se conheceram, e de quebra mudar o destino da vida de todos à sua volta. Afora atravessar o tempo em uma máquina como o DeLorean com capacitor de fluxo, você poderia revolucionar a Música e o mundo ao criar o rock´n´roll tocando “Johnny be Good”.
Findos os anos oitenta, a idéia virou fórmula e fomos por água abaixo. Os orçamentos explodiram, a segurança se tornou absoluta, haja visto o enorme número de apostas mal feitas que afundaram estúdios quando se começou a aplicar o esquema hollywoodiano em larga escala para contar histórias imbecis, e então aqueles filmes lendários viraram apenas exceções em um mundo de “blockbusters” infantilóides. Hora ou outra aparece um filme genial, mas tão espaçadamente que ainda temos que rezar por um ano que preste na telona.
E esperamos que, um dia, possamos ver de novo uma revolução nascendo de nossas mãos, de preferência com a garota perfeita do nosso lado, com o carro de nossos sonhos e melhores amigos derrubando monstros burocráticos e lerdos.
E nada é definitivo. Qual é o seu filme perfeito?
Ms houve um momento em que o cinema entendeu que podia contar as histórias que todos queriam sem se preocupar em parecer burro demais ou agradar a academia. São aqueles no limiar entre a melhor coisa para se fazer como trabalho de filosofia e melhor coisa para se ver na sessão da tarde. Os filmes perfeitos.
Muita gente vai discordar, apelar para a velha Hollywood e evocar os nomes sagrados do cinema sério, e provavelmente ninguém se dá conta dos inúmeros significados inseridos neles. Mas vamos á lista e vocês entenderão de quem estou falando. Enquanto isso, torçamos para que a bilheteria deixe de ser tão predominante e voltem a arriscar alguns milhõezinhos de dólares (nem são tantos, nada de novos “Titanics”) para voltar a ver filmes como estes nas telonas. E não liguem: não há ordem. Não há hierarquia na perfeição!
“Curtindo a vida adoidado” : Alguém mais acha que Ferris Bueller é o novo Prometeu? Ninguém nunca sonhou em dirigir uma Ferrari com o melhor amigo e a Mia Sara do lado e tocar uma zona na cidade inteira? Nada é melhor que isso para sair da deprê! E ainda tem a glória em música de reapresentar “Twist and Shout” a toda uma geração.
“Indiana Jones e o templo da perdição” e “Os caçadores da arca perdida” : Começa com a Música que remete qualquer um a outro universo. A obra prima de John Willians toca imediatamente nos ouvidos quando ouvimos a palavra “aventura”. Injeção de adrenalina com aula de mitologia e história oculta, muito antes dos passos de pato do “Código da Vinci”. Onde aprendemos o que é a saga do herói mítico. O terceiro filme (ou colocado? “A última cruzada”) até se esforça, mas não chega aos pés dos primeiros. Se aventura tem nome, todos aprenderam ao ver Harrison Ford pela primeira vez a estalar um chicote.
“O clube dos cinco” : Também conhecido como “o melhor jeito de fazer um filme custando uma bagatela com um bando de amigos, uma pusta idéia na cabeça e metade dos pesadelos, sonhos e visões de mundo da adolescência universal”. Além de tudo isso, tem a Música mais gritável no topo de uma montanha de peito nu na ventania de todos os tempos: “Don´t you (forget about me)”.
“Aliens, o resgate” : O melhor filme de ação de todos os tempos? Talvez. Uma criatura biologicamente bem bolada, horrivelmente verossímil, uma mãe protegendo a cria de cada lado, o padrão de personagens de filme de ação copiado por todos a partir de então (o covarde, o burocrata traidor, o comandante durão, a durona, o técnico, o legal...), e uma inspiradíssima Sigourney Weaver arrastando o elenco nas costas. Tem ainda o mérito de uma rara continuação que não envergonha o original. Além, é claro, da mais fria e tensa Música tema para um filme. Igualmente copiada à exaustão.
“Footloose” : A síntese do espírito. Conservadorismo americano mostrado como é e a receita de como irritar gente entorpecida pelo comodismo. A jornada para trazer o novo, em versão que ninguém podia resistir à vontade de sair pulando. A música-título ainda é esperada nas pistas de dança do mundo todo, e desbanca qualquer outra.
Qualquer uma das comédias românticas da Molly Ringwald e do Patrick Dempsey : para citar alguns, vamos a “Gatinhas e gatões” e “Namorada de aluguel”. Ambos simples de doer, mas tudo de que você precisa para desopilar o fígado e entender um pouco de como a mente humana começa a trabalhar. E quem não tirou sarro da “dança do tamanduá africano” nunca foi humano.
“Predador” : Arnold Schwarzenneger fez pelo menos um filme insuperável na vida. Até por que desta vez um diretor manteve-o abaixo da escala da história, o que infelizmente não se repetiu. Aqui, ele é o coadjuvante de uma história sobre o medo mais supremo do homem: o de virar caça. E do quão necessário é andar de mãos dadas com nossa natureza primordial.
Calma. Com sorte, o seu preferido ainda vai aparecer aqui.
“Goonies” : Outro fora da escala da perfeição. Toda criança, se tiver espaço, vai ser um goonie. Vai sonhar e encontrar tesouros e piratas pelo seu mundinho. Vai ser capaz de manter-se firme em sua bem-aventurança mesmo quando acontecem aquelas coisas que a trazem ao mundo adulto. Melhor ainda se tiverem um Slot para cuidar delas e tiverem a hilária Música da Cindy Lauper “Goonies ´r´ good enough”.
“Os garotos perdidos” : Sabe toda a onda de vampiros adolescentes, góticos e poderosos? Veio daqui e cai por terra antes da metade do filme. Com the Doors na caixa (e a Música-resumo do filme é a regravação fantástica do Echo and the Bunnymen de “People are strange”), os vampiros mostram sua pior face antes mesmo de acabarmos de admirar aquela vida idílica de imortalidade e sangue. E claro, lá estão as estacas e uma boa idéia.
“Conta comigo” : Outro com Corey Feldmann, o moleque mais freqüente dessa lista. Ninguém acredita, mas é baseado em um conto do Stephen King. E se três garotos podem fazer seu ritual de iniciação à vida adulta apenas com o desejo de provar a si mesmos que podem ver uma coisa do mundo da violência, e ao mesmo tempo essa história ser contada com inacreditável sensibilidade, então, somos todos capazes disso. E nem precisa lembrar da Música título (“Stand by me”) para chorar.
“Em algum lugar do passado” : Romântico até a diabete, mas imperdível, traz o Amor trovadoresco até nossos pés e depois nos joga dentro dele sem ao menos nos apercebermos que, não importa o que aconteça, queríamos sentir aquilo nem que seja por um segundo. E além disso, traz o Christopher Reeve em outro tipo de super-homem.
“A pequena loja dos horrores” : Uma característica desta lista é a originalidade. Neste quesito este filme que é uma regravação se enquadra, por perverter um filme “B” dos anos cinqüenta e transformá-lo em um “terrir” musical da Broadway delicioso e de morrer de rir. Merecia ser mais conhecido, nem que seja apenas para ver Steve Martin no papel do dentista sádico. Mas uma planta cantando com uma voz da Motown também é único! (Não sabe o que foi a gravadora Motown? Vai aprender!).
“Irmão Sol, Irmã Lua” : Você nunca viu esse na sessão da tarde? Não é para menos. Mergulhos tão abissais na mente da espiritualidade ocidental não saem impunes do cinema. Tudo que um dia você pensou que estava no coração do Dalai-lama ou de madre Teresa de Calcutá, em uma versão belissimamente dirigida.
“De volta para o futuro” : Fala, você também queria ir lá e ver seus pais como eram quando se conheceram, e de quebra mudar o destino da vida de todos à sua volta. Afora atravessar o tempo em uma máquina como o DeLorean com capacitor de fluxo, você poderia revolucionar a Música e o mundo ao criar o rock´n´roll tocando “Johnny be Good”.
Findos os anos oitenta, a idéia virou fórmula e fomos por água abaixo. Os orçamentos explodiram, a segurança se tornou absoluta, haja visto o enorme número de apostas mal feitas que afundaram estúdios quando se começou a aplicar o esquema hollywoodiano em larga escala para contar histórias imbecis, e então aqueles filmes lendários viraram apenas exceções em um mundo de “blockbusters” infantilóides. Hora ou outra aparece um filme genial, mas tão espaçadamente que ainda temos que rezar por um ano que preste na telona.
E esperamos que, um dia, possamos ver de novo uma revolução nascendo de nossas mãos, de preferência com a garota perfeita do nosso lado, com o carro de nossos sonhos e melhores amigos derrubando monstros burocráticos e lerdos.
E nada é definitivo. Qual é o seu filme perfeito?
3.10.06
"Ride the snake"...
Bom, se você está aqui, provavelmente me conhece. Se me conhece, provavelmente já sentou para conversar comigo preferencialmente com um copo de cerveja na mesa, e já discuti xamanismo com meio mundo.
Aos incautos: o xamanismo é a religião primordial do ser humano. è a representação máxima da união do homem com a natureza que o cerca, e funciona através de reconhecimento de totens animais; plantas que fazem a ligação da alma com o mundo, as chamadas plantas de poder; batuques hipnóticos acompanhados de privações e sacrifícios, ou simplesmente escutando a voz da natureza quando em contato com o que nos cerca.
Lá estava eu na sala de répteis, meu setor atual no Zôo, sozinho e começando a rotina de manutenção, o rádio tocando uma música que amo e me enviando a algum estado de consciência estratégico com sua melodia arrastada e vocais envolventes, quando começo a fazer uma atividade meio fora dos padrões dos empregos normais: tirar a muda de peles das serpentes da coleção.
Serpentes ganharam muito de sua mitologia pois a renovação pela qual passam a cada troca de pele (a pele das cobras não cresce com o corpo) faz com que a mais feia cobra pareça recém saída do ovo após a muda, e o vínculo com aimortalidade, sabedoria, cura e perspicácia foi feito com elas em metade das culturas do mundo, a metade que conhece cobras.
é quando toca o seguinte trecho da música:
"Ride the highway west, baby
Ride the snake, ride the snake
To the lake, the ancient lake, baby
The snake is long, seven miles
Ride the snake...he's old, and his skin is cold..."
Para os hereges que não reconheceram o trecho sem o absurdo teclado de Ray Manzareck, este é um trecho de "The End", aquela que muitos consideram a obra prima suprema do The Doors, a banda californiana de maior importância no universo até o presente momento e lar artístico do auto-intitulado Rei lagarto, Jim Morrison.
Mas como Ricardo que é Ricardo procura pelo em ovo...
Resolvi ver de que cobra eu estava tirando a pele velha.
Uma cobra-rei californiana.
O xamã vê o que os animais lhe dizem em cada momento de suas vidas. E, por vezes, um rádio é tudo que os deuses precisam para dar um recado.
Aos incautos: o xamanismo é a religião primordial do ser humano. è a representação máxima da união do homem com a natureza que o cerca, e funciona através de reconhecimento de totens animais; plantas que fazem a ligação da alma com o mundo, as chamadas plantas de poder; batuques hipnóticos acompanhados de privações e sacrifícios, ou simplesmente escutando a voz da natureza quando em contato com o que nos cerca.
Lá estava eu na sala de répteis, meu setor atual no Zôo, sozinho e começando a rotina de manutenção, o rádio tocando uma música que amo e me enviando a algum estado de consciência estratégico com sua melodia arrastada e vocais envolventes, quando começo a fazer uma atividade meio fora dos padrões dos empregos normais: tirar a muda de peles das serpentes da coleção.
Serpentes ganharam muito de sua mitologia pois a renovação pela qual passam a cada troca de pele (a pele das cobras não cresce com o corpo) faz com que a mais feia cobra pareça recém saída do ovo após a muda, e o vínculo com aimortalidade, sabedoria, cura e perspicácia foi feito com elas em metade das culturas do mundo, a metade que conhece cobras.
é quando toca o seguinte trecho da música:
"Ride the highway west, baby
Ride the snake, ride the snake
To the lake, the ancient lake, baby
The snake is long, seven miles
Ride the snake...he's old, and his skin is cold..."
Para os hereges que não reconheceram o trecho sem o absurdo teclado de Ray Manzareck, este é um trecho de "The End", aquela que muitos consideram a obra prima suprema do The Doors, a banda californiana de maior importância no universo até o presente momento e lar artístico do auto-intitulado Rei lagarto, Jim Morrison.
Mas como Ricardo que é Ricardo procura pelo em ovo...
Resolvi ver de que cobra eu estava tirando a pele velha.
Uma cobra-rei californiana.
O xamã vê o que os animais lhe dizem em cada momento de suas vidas. E, por vezes, um rádio é tudo que os deuses precisam para dar um recado.
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