27.1.09

Caso quente


"Cold case" é um seriado exibido na televisão a cabo (Warner channel) e na TV aberta como "Arquivo morto" (SBT) acerca de uma unidade de investigação de casos arquivados e sem solução. Sem entrar no mérito da existência ou não de algo equivalente na polícia brasileira (teria muito, mas muito mais trabalho que todo o resto da polícia), queria falar aqui sobre o principal ponto a favor da série:

Todo mundo é importante.


Alguns anos atrás, lendo uma história em quadrinhos do Arqueiro Verde, onde ele e o Questão se unem para capturar traficantes de armas, ele responde, em meio a divagações sobre a "Arte cavalheiresca do arqueiro Zen", à questão do seu colega (cujo codinome vem da enormidade de perguntas feitas durante toda sua carreira a qualquer um) sobre seus motivos para ir atrás daquele caso em particular ao invés dos habituais malabarismos atrás de vilões fantasiados.

Simples. Uma criança foi morta em um avião sequestrado por uma arma translúcida ao raio X vendida por aquela gangue. Ele lembra que aquela criança poderia ter sido a descobridora da cura para o câncer, um excepcional jogador de baseball ou simplesmente um cara legal. Ninguém tem o direito de interromper o potencial de outra pessoa.

O Arqueiro Verde é personagem esquerdista assumido, mas a questão não é essa. "Cold case" se baseia integralmente nesta premissa. Todas, TODAS as vítimas mortas a séculos e cuja morte é investigada décadas depois pela equipe da senhorita Lili Rush são pessoas que poderiam ter mudado o mundo. São sempre pessoas caridosas, mesmo quando não aparentam, com enorme potencial para o bem, de vida difícil e em geral morrem por não abdicarem de seus princípios. dia ou outro, serão justiçadas, e a segunda mensagem do seriado poderia ser "não importa quem você seja hoje, a era de impunidade está acabando e serás responsável por teus passos anteriores".

A equipe de investigação é um show a parte. A protagonista é aquela coisa de sempre, mas os dois veteranos são fantásticos e o segundo investigador, interpretado pelo gorducho Jeremy Ratchford, é um ator de fazer inveja a muito oscarizado por aí. Rush sempre vê as vítimas sorrindo para ela ao fim dos episódios, quando a justiça foi feita, e alguns pensam ser uma série de temática espírita. nada mais incorreto. É uma série de investigação de estilo pré-CSI, onde as provas analisadas por ultra-tecnologia são substituídas pela boa e velha investigação dedutiva. Quando eu escrevo histórias de investigação, me inspiro neste tipo de narrativa. Estou de saco cheio de máquinas tomando o lugar de Sherlock Holmes.

Todos têm potencial para serem pelo menos pessoas legais. Toda pessoa perdida é um potencial perdido. Cada caso deixado de lado é um desestímulo para quem tenta ser legal. Todo ato de corrupção faz das pessoas boas as palhaças da sociedade.

Que muitas pessoas vejam "Cold case" e reflitam. Afinal, só eu li a história do Arqueiro Verde, mas todo mundo tem a emissora do homem do baú em casa.

E se lembrem do potencial a ser estimulado nos outros e em si mesmos.

1.1.09

O ano em que Dercy nos deixou.


2008 vai embora sem traumas. Por mim ele pode acabar e me deixar em paz logo. 2009 se configura muito mais promissor, como um vasto campo onde se escondem novidades e tesouros só visíveis sem a capa de previsibilidade dos últimos tempos.
E não quero nada mais com um ano onde Dercy Gonçalves morreu.
Dercy Gonçalves, a última grande representante do teatro de revista ainda na mídia, nos deixou, e vai fazer falta sua subversão nestes tempos de papas na língua para tudo. Na foto ao lado ela já tinha idade para ser chamada de "senhora", e responderia com um delicado "Senhora é a putaqueopariu"!
Foi um ano para acabar com certezas e apagar o passado e as travas do tempo.

Bettie Page também se foi.
Para os desavisados, Bettie Page foi a maior Pin Up da história e, sob uma ótica simbólica, um dos pontos altos que criaram a modernidade feminina.

Cyd Charisse idem. As pernas mais bonitas de Hollywood e um das artistas supremas da era dos musicais.
Há quem diga o papel desta trinca na libertação feminina é tão grande quanto o do episódio da queima de sutiãs.

Fernando Torres, expoente de sua geração e um dos maiores atores que já pisaram nos palcos brasileiros, nos deixou (e à sua viúva e sobrevivente, Fernanda Montenegro) não recebeu metade das homenagens merecidas.

E foi o último ano da era Bush, causador do colapso econômico mundial com sua (falta de) política econômica. Ano do reerguimento do conflito entre Israel e Palestina.
Em suma, foi um ano onde acabou o passado, derrubou muros e pontes e deixa espaço livre para novas e diferentes formas de arrumar as coisas.

Um novo tempo começa com novos governos (Obama?), novos macacos, novas universitárias, novos caminhos e novas opostunidades, além de uma outra disposição em ver as coisas. Planejar é sempre bom.
Vou sentir saudades de muita coisa, e para mim vieram tantas coisas boas durante este ano que se torna quase hipócita desejar o começo de 2009. Mas deixemos o passado para trás.

Alguém precisa tomar o lugar desse povo todo que nos deixou!