16.5.07

When your day is done and you wanna run; cocaine... She dont lie, she dont lie, she dont lie...

O papel do xamã é descobrir por trás do véu da humanidade aquilo que a natureza, através dos deuses que a personificam, tudo que foi, é e pode vir a ser. Usar deste conhecimento para abrir os olhos de seu povo, e ferir as comodidades e destruir as ilusões que limitam a vida e afastam da felicidade os comuns dos mortais.
Por esta visão, o Xamã, o Hierofante, é uma espécie de herói, resgatando das trevas profundas, do âmago do monstro marinho do subconsciente coletivo, e muitas vezes pagando um preço em incompreensão ou até em sua existência física, normalmente injusto com o benefício que ele pode trazer.
O aprendizado para se controlar durante este mergulho é duro, árduo, longo e desprovido de glamour e prazer. Isto virá, sim, durante o mergulho, e é necessário para que se possa voltar á tona vivo, bem e mais sábio.
Ou os horrores enterrados fundo na alma do mar o carregarão para as profundezas e nunca mais o deixarão sair.
Não é fácil entender o caminho até lá em cima ou até lá embaixo da mente. Falar com as mentes ali presentes, então, demora e exige uma carga de interpretação que ainda estamos longe de adquirir como mortais. Então, no decorrer dos séculos, facilitadores foram evocados de todas as aprtes do mundo natural para isso: Rituais, animais guias, anjos da guarda ou demais guardiões e condutores espirituais, plantas de poder, tendas de suor, isolamentos e jejuns, cogumelos alucinógenos e por aí vai.
Uma lenda perunana diz que um dos primeiros segredos dos incas roubados foi o de sua principal planta de poder sagrada. Cansados de escalar sem costume as montanhas e abismos onde os incas se refugiavam, os conquistadores espanhóis rapidamente descobriram que uma planta da região era mascada pelos nativos para suportar os efeitos da falta de oxigênio.
A planta era usada como ponte para o mundo dos ancestrais. Ela teria ensinado o complexo alfabeto de nós em cordões usados pelos incas, a arte de construir e como viver nas montanhas mais altas do hemisfério sem sofrer.
Quando os estrangeiros massacraram uma das maiores cidades da região do Peru, conta a lenda que o sacerdote, que também tinha as características de xamã, lançou uma maldição naqueles homens. A planta que eles roubaram para seus próprios propósitos iria ser a ruína deles, e os destruiría e aos seus familiares devido à ganância, e a mesma ganância faria a maldição mais a mais forte.
O que mais mata hoje no crime? Qual o comércio ilegal que mais fatura no mundo?
Aquela planta tomou de muitos suas vidas. Ela ofereceu aos descontentes, aos pobres de espírito, aos fugitivos da realidade dura de se enfrentar uma saída. Mergulhava-os no mundo interior onde só os xamãs podem ter acesso e saírem a salvo. E os deixa lá para serem devorados pelos monstros crescidos na futilidade, no desespero e na falta de perspectiva.
J. J. Cale tinha razão. Ela não mente. Mas ela é rudemente sincera. Até demais.

5.5.07

Carol

Acabo de" salvar" junto com minha prima Ana a Carol, outra prima, de um seqüestro.

O mais engraçado é que ela nem sabia que estava sendo sequestrada. Isso só estava acontecendo na cabeça da mãe dela, na mente coletiva de uma gangue daquelas que ouvimos falar nos programas sensacionalistas e nos piores pesadelos de todos os demais.

Sabe o que é mais estranho? É exatamente como reza o clichê. O celular da suposta vítima está desligado, portanto, ela está sem contato. Uma ligação aparece do nada e uma voz chorosa e genérica pede ajuda, uma ligação policial falsa logo em seguida e logo viria algum pedido de resgate ou sei lá o quê. Um acúmulo de lugares comuns de jornaleco.

Ela tinha deixado acabar a bateria, o que me faz pensar que alguém deve ter tentado ligar para ela antes de começar o golpe e descobriu que ela estaria incomunicável. Pessoas, troquem o número se algo assim rolar! Alguma enrolação, e eu me enchi e resolvi ir pra facul dela ver se ela estava no nobre esporte irlandês de encher a cara.

O conhecimento insuperável da botecogeografia de entornos de faculdade foi essencial para achar a Carol, feliz e contente dois segundos antes da gente cair abraçado nela e explicar que só ela não estava em pane na família Avari.

Agora vai virar piada de festa familiar. Mas o entendimento do que é medo passa por aqui!