7.8.08

Onde os fracos não têm vez.

O fantástico "Onde os fracos não têm vez." (assista, é mais uma obra-prima dos irmãos Coen) é apenas uma lembrança adulta, séria e dura do mundo real para começar um texto sobre algo absolutamente oposto.

Emos.
Em algum lugar do passado, quando os gliptodontes tinham que encarar os tigres-dente-de-sabre pelos campos do Brasil, eu passei um amargurado, nada invejável e desgraçadamente vazio ginásio, seguidos de um ano de fuga e quatro anos de colegial em busca de libertação.
Naqueles distantes anos 80, eu era parte da geração que cresceu com a televisão de babá, o Pica-pau e Jonny Quest como modelos de esperteza, Luke Skywalker de herói, Indiana Jones e os Goonies como símbolos de aventura, Rambo como modelo de idiotice e macheza, e principalmente, seriados dos anos 60 divertidos, leves e bobos como passatempo. Isso inclui "Jornada nas Estrelas" e "A Feiticeira".
Isso era um complemento, uma parte do alívio da vida, e não a parte principal do bolo. O recheio eram as brincadeiras na rua, andar pelo bairro e se enfiar em terrenos baldios, inventar guerrinhas de turma, se sujar inteiro de argila tentando fazer um cinzeiro (um cinzeiro!!!) para os pais e ganhar tempo para não voltar à humilhante escola.
Tá, nem tudo eram espinhos na escola. Tinha a galera do muro, hoje seriam chamados de "nerds" do colégio. Tinha a Simone, a Marisa e a Úrsula. Tinha o arranca-toco (uma bola dura, cem pés de criança e um terreno áspero e perigoso onde devia-se chutar, FORTE, para todos os lados, ou ser chutado).
Assim posto, o que resta após uma minuciosa análise é que ali, não havia espaço para ser fraco. Não tínhamos este direito. Não se refugiava na condição de nerd, de intelectual, de queridinho. Ou você sabia responder, reclamar, peitar o cara grande para ele te respeitar (e nunca dava em briga, havia um código de coragem) ou você era maltratado. E mesmo nesta condição, ai de ti se chorasse. Criava-se a casca, e a usava para agredir.
Não, não é saudável.
Mas agora há espaço para isso. Bill Gates libertou os cerebrados, sendo patrão dos descerebrados. Não há briga de gangues de punks com carecas com metaleiros com breakers, pois há inimigos comuns a todos agora: rádios populares de pagode e hip-pop de butique.
Você pode se chamar, olhem só, de Emo, e ser chorão, impopular, delicado e magricelo que há toda uma tribo a te aceitar e chorar com você.
Isso também não é saudável.
Se antes os fracos não tinham vez por que o mundo exigia uma dureza remanescente dos tempos duros dos nossos pais e avós, que viram guerras, plantaram no chão duro e não viam com bons olhos a simplicidade da vida moderna urbana e acomodada, agora esta mesma modernidade urbana cria seres frágeis e que se orgulham disso.
Se uma parcela resolve que seus gostos pelas mesmas fugas escapistas de minha infância são dignas de fãs-clubes e lojas especializadas (qual não foi meu susto ao ler o enorme montante financeiro movimentado pelos fãs do Chewbacca), mas em contrapartida tem cérebros privilegiados para lidar com as complexidades informáticas, outra parcela mais numerosa usa da fraqueza para continuar fraco, e não para explorar o conhecimento da vanguarda tecnológica.
Portanto, se eu sofri pacas durante minha infância, mas hoje eu sei usar uma serra, um facão e ferramentas para fazer um recinto de primatas sob as normas corretas da ambientação, será que o emo-mirim de hoje vai saber fazer o mesmo quando decidir que vai trabalhar? Ele vai mandar outro fazer o que ele não sabe.
Ainda tem muito a explorar sobre isso, mas uma coisa me espantou.
Enquanto buscava amadurecer a idéia de um texto sobre uma geração criada sob o signo da fragilidade e não da soberania sobre si mesmo, uma geração de ovelhas cristãs e não de águias xamãnicas, eu pensei mesmo que era uma libertação, a vitória na cultura pop contra a barbárie, e os emos ocupariam um lugar de destaque por terem acelerado um processo de emancipação, de liberdade de não ter músculos e não ter que aprender a sobreviver na selva, em prol de uma era de contemplação e beleza.
Aí ela lembrou de uma comunidade do orkut, o templo irreal desta geração, e disse mais ou menos o seguinte:
"Quem foi o último fulano com esse jeitão meio maricas, vegetariano, de franjinha de lado, respeitador, amante da beleza, burro como uma porta, conquistador de admiração por sua eloquência ao invés de sua força, que chegou a uma posição de poder que já queria faz tempo e a usou em prol de seus ideais?"
Adolf Hitler.
Todo emo continua como o Ricardo de 10 anos de idade. Sofrendo por não ter poder, louco para se vingar de quem tem, e prontinho a causar enormes injustiças para isso. E se vangloriando por seus defeitos.
A diferença é que eu cresci, e busquei ser eu mesmo, achar minha força interior, achar aquilo no qual eu era bom para não chorar de depressão pelos cantos quando crescesse. E essa geração de fracos não busca isso. Busca cultivar a sensação de impotência, sem ampliar seus horizontes, sem entender que certas coisas são só escapismo, sem aprender, sem questionar.

E que venham as críticas. Quando eu resolvo falar mal de algo, deixo em espera as exceções, as variantes e as pluralidades. O generalismo faz parte da crítica social.

Agora, algo assustador: vi isso e, repentino, me senti profético!
http://g1.globo.com/Noticias/Musica/0,,MUL689504-7085,00.html

Nominado

Aqui finda a fase de nomes no blog. Se seu nome não surgiu aqui, talvez você seja inseparável de seu nome, e eu jamais conseguiria dizer algo que não fosse ligado a alguém. Ou então, seu nome é sem graça. Pode ser ainda que você esteja acima de tudo isso.

Até a próxima postagem...