12.10.09

Dia das crianças

Celebrar a criança interior é diferente de se tornar infantilóide.
Em algum lugar que já virou história, quando o mundo se dividia entre vermelhos e azuis, o terceiro mundo padecia com militares no poder, ninguém reciclava lixo, o apocalipse era questão de tempo e a Etiópia era a prova disso, eu era criança. E qual a solução para aquelas crianças sem futuro? (ah sim, o punk cantava "No future").

Doses inimagináveis de imaginação. É! Todo programa infantil pregava que, se tudo está uma merda, se você sofre, se está reprimido, com medo de monstros debaixo da cama, de bombas nucleares, de abutres esperando mortos de fome e policiais descendo o cassetete no seu irmão mais velho... OS SEUS PROBLEMAS ACABARAM. Basta que você USE A IMAGINAÇÃO!

E era isso pra todo lado. Peter Pan, Pirlimpimpim, Plunct Plact Zoom, Sítio do Pica-pau amarelo, A história sem fim, Steven Spielberg, Rambo e por aí vai.

No fundo, no fundo, isso ajudava a criar uma geração que não questionasse, pois o descontentamento era facilmente tratado dando a essa galera doses de sonhos tornados realidade. Circo bastava para calar toda essa turma, incutida da idéia de que a realidade é um saco e que a solução mesmo é viajar na maionese.

Tá. O onírico é fascinante. Mas a capacidade de realização desta geração foi prejudicada, abrindo caminho para a seguinte ainda mais alienada, adultificada antes da hora. E todos se esqueceram do que significa ser criança em um mundo onde a adolescência se expande a níveis absurdos. Aos oito anos, meninos e meninas se acham adolescentes, e quarentões de toda parte se acham no direito de se comportarem como pivetes de dezoito anos.

Adolescência é a fase cretina onde somos apresentados ao mundo adulto e só podemos consumir nele, sem criar este mundo. E onde nossa imaginação e poder criativo são podados, deformados, reprimidos e julgados por nossos colegas, sociedade e por nossa pretensão de sermos muito maduros quando não somos.

Por isso, eu prego: usem a imaginação! A imaginação, a brincadeira, o jogo, isso nos prepara para sermos alguma coisa. A imaginação criou Einstein, Da Vinci, Cousteau, enquanto o cartesianismo só cria no máximo os CEO de empresas que temos por aí, aquelas pessoas que acabam de afundar a economia mundial ganhando muito para não produzirem ou criarem nada.

Na boa, uma criança que sonha ser caubói ou astronauta ou professor ou médico vale muito, mas muito mais do que qualquer adulto que resolveu que tinha que escolher uma profissão lucrativa para ter o carrão do ano. E um adulto que virou economista precisa, de vez em quando, meter o pé na lama para não se esquecer de quando queria ser bandeirante e explorar o sertão atrás de esmeraldas.

O homem de fato, o adulto de verdade, é a imaginação calibrada e dotada de poder de realização.

Tudo isso pra desejar-te um feliz dia onde a criança interior renasça. Uma criança com o poder de realização e a força de adulto, uma criança com dinheiro, informação e passadas de adulto. Uma criança capaz de fazer, não só de sonhar, o que quer ser quando crescer.