9.6.09

O fim do mundo já aconteceu e não nos avisaram?

A transição dos 80 pros 90...

O apocalipse foi anunciado umas dez vezes desde que eu nasci.

No fim da guerra do Vietnã, eu era um recém-nascido e diziam que pra dar o troco os EUA iam enfiar bombas no Vietnã, e a URSS ia revidar, acabando com o mundo. Quando o Irã e o Iraque se pegavam, corria algo sobre o colapso da economia aliado a uma guerra que se espalharia pelo oriente médio e trazendo de novo as bombas atômicas. O ambiente pós apocalíptico clássico da época previa um mundo dominado pelos malvados punks, os terrores da classe média americana e seus sonhos de ordem e progresso capetalista.


Com o advento dos computadores, nasceu o fim do mundo pela mão das máquinas.


Com o Reagan no poder, o mundo só não acabou pois na União Soviética havia um careca com um cérebro que evitou uma desgraça. O ponteiro do relógio do apocalipse bateu perto da meia-noite (relógio que inspirou a temática de Watchmen, diga-se de passagem) quando o projeto “Guerra nas estrelas” foi cogitado.


O comunismo caiu na União Soviética e seus militares iam se vingar jogando seu arsenal mundo afora. Você viu? Nem eu.

E aí veio a guerra do golfo, as previsões de Nostradamus casando passo a passo com a escalada do conflito (durante duas míseras semanas).

Então a era dos super vírus. O Ebola matou um monte de gente mas nunca se tornou uma pandemia.

E o mais midiático, o fim do milênio. Não caiu nenhum meteoro na terra, não aconteceu nenhum “bug do milênio” pra jogar nossa tecnologia na idade das trevas, não houve invasão alienígena.

Daí, 11 de setembro. Nada tão relevante pro resto do mundo, mas a mídia da era Bullshit propagava uma era de terroristas superpoderosos. Necas de novo.

Em 2009 temos duas ameaças de fim do mundo: as “Sexy dolls” (dessas eu tive medo, é quase como ver os 4 cavaleiros do apocalipse) e a mais recente gripe suína.

Cantava o REM: It´s the end of the world...

Mas aí me pergunto. E se o mundo acabou mesmo? E se Nostradamus estava certo e o fim do mundo veio com a guerra do golfo? Mais especificamente, na transição dos anos 80 pros 90?


Explico. Com a queda do muro de Berlim, um invento militar se popularizou: a Internet. Mas a internet nasceu de uma idéia hippie dos anos sessenta. Compartilhar informação, descentralizar o conhecimento, comunicar-se com o mundo todo em um clique...

O invento foi adotado nas instalações militares de todo o mundo, em versões vermelhas e azuis. Na mesma época, os hippies trouxeram a revolução de costumes, a liberdade feminina e a igualdade dos indivíduos se espalhou como idéia básica de democracia.


Quando o mundo se viu livre da divisão binária do século XX (Sim, o século XX acabou ali. Mas o século XXI só começou em 2001) os conflitos regionais ressurgiram. Vieram as guerras étnicas da África, do leste europeu e do oriente médio.


No mundo da cultura, a Disney se antecipou e propôs um modelo de novo mundo. E fizeram isso com um filme: “Uma linda mulher” propunha um mundo pós punk, onde os anos oitenta eram enterrados, a putaria acabava e o futuro abraçaria todos que se dispusessem a serem elegantes, divertidos e blasé. A trilha sonora transitava junto aos personagens, começando com a prostituta artificial e meio punk ao som de Peter Cetera ou Christopher Otcasek, para ao fim chegar aos modernos de então, Roxette, tocando para uma mulher natural, sóbria, em tons pastéis e apreciadora de ópera, moderna mas dependente de seu provedor. Pois é, o futuro imaginado era regado a Ace of Base e Roxette, em tons pastéis, cheio de puritanismos e dentro dos conformes.


Mas alguns anos depois veio o grunge. A Internet matou a indústria fonográfica e de filmes como a conhecíamos, e embora estas ainda agonizem, logo o esqueleto delas ruirá. Governos opressores se sacodem em uma luta inglória para conter a informação que chega ao seu povo de maneiras absolutamente incontroláveis, que mudam e crescem a cada dia. Todos podem postar blogs, fotologs, e terem perfis em comunidades que conversam com o mundo todo. Todos sabem que é ridículo ser preconceituoso, que governos falham, que votos são melhores que nada, que liberdade é um direito. Só não agem como deveriam, mas sabem.


O mundo com o o conhecíamos foi pulverizado em menos de dez anos. Os anos 90 simplesmente destruíram todas as certezas, tornaram todas as ficções científicas retratos ridículos do porvir (com a gloriosa exceção de alguns poucos e bons autores do Cyberpunk, e olhe lá: hoje “Neuromancer” está logo ali).

Nostradamus estava certo, então: tudo que imaginávamos está mudado. O mundo que começou a nascer após a segunda guerra mundial é globalizado, a informação desconhece limites, e apesar de todos os preconceitos, visões míopes de política e raça, dos danos ao meio-ambiente, é consenso geral uma linha de como o futuro deve ser. Existem normas na guerra, embora nem sempre seguidas. Existe a idéia de que racismo, sexismo, fanatismo são errados. Tudo isso era impensável nos tempos de H.G. Wells ou Lênin.


Bem vindo ao mundo pós-apocalíptico.

O deserto está sendo providenciado pela devastação florestal e pela fome de bilhões e bilhões de seres humanos. Você carrega um celular que acessa internet e faz as vezes de memória de vez em quando, e alguns o usam conectado constantemente ao ouvido num fone. Usa carros híbridos para combustível criados por multinacionais em bancarrota, e logo, movidos a hidrogênio. O Brasil é uma das economias mais fortes do mundo no mundo da ficção cientifica de seu hoje. Temos epidemias de obesidade e sedentarismo, em breve isso nos tornará dependentes de mais e mais máquinas. Marte já tem planos de colonização para daqui a algumas décadas, e os protótipos estão sendo testados. Seu computador aprende com seus erros, e os corrige. Logo ele corrigirá você.


Você é o punk ao lado da personagem da Tina Turner em “Mad Max III”.

1.6.09

War pigs

"Gripe suína provoca zumbis", ouviu essa?

Aproveitando a onda histérica criada, não sem certa dose de justificativa, com a gripe H1N1-A, até então chamada de gripe suína (em paralelo à gripe aviária, com a diferença que o vírus de agora NÃO FOI encontrado em porcos nesse surto), um espertalhão criou um site falso copiando o lay-out da BBC e espalhou por ele uma notícia de que, após algumas horas da morte clínica declarada de alguns pacientes da tal gripe, eles se levantaram, com o cérebro comprometido pela falta de oxigenação causando um surto de violência que durava alguns minutos. Os "zumbis" morriam após este surto, definitivamente.

Dezenas de sites pseudo-informativos espalharam a notícia falsa, comprovando a regra que em tempos de CNN, Foxnews, internet e Discovery channel os jornalistas esqueceram-se que as histórias precisam ser comprovadas. Foi apenas um dia, mas muita gente ficou impressionada enquanto não leram as erratas do dia seguinte.

"War pigs" é uma música do Black Sabbath, ó desavisado leitor com menos de 18 anos. Em uma época de guerra fria, era mais uma música lembrando que, no final das contas, quem resolve criar guerras não são as populações dos países, mas meia dúzia de engravatados artríticos fechados em um "bunker" com seus dólares e filhos em idade de alistamento. O Legião Urbana fez "O senhor da guerra" com a mesma idéia.

E a manchete acima liga-se a isso como?
Bom, a fúria sem canalização das pessoas neste nosso mundo com o politicamente correto encontrou uma solução para video-games, filmes B e desenhos animados trucidarem humanóides e gastar as baterias de fúria das pessoas que os assistem. É só transformar os inimigos em zumbis e a desculpa para você matar aquele ser chato na tela já está feita.

A histeria sobre a gripe H1N1-A é até certo ponto justificada. Gripes se espalham rápido, e uma delas com alta taxa de mortalidade é preocupante sim, em especial se chegar a áreas pouco estruturadas sanitariamente. Os 2 casos na Jamaica noticiados ontem, por exemplo, preocupam muito mais que os 100 casos do Japão.

Ela é muito perigosa? É, mas menos do que a gripe espanhola, com a qual muitos a comparam, especialmente por que na época da gripe espanhola a tecnologia de medicamentos estava engatinhando, e antibióticos e antivirais eram apenas um sonho. A letalidade dela é bem menor que a da gripe aviária, também, mas como surgiu ao lado do país mais escandaloso do mundo, a cobertura está tomando proporções alarmantes.

Agora somemos: uma crise financeira, um ditador falando duro com seus vizinhos, uma epidemia de gripe... é quase o cenário que antecedeu a segunda guerra mundial! Historiadores estão dando risada do potencial de pânico disso tudo.

A gripe suína não é algo com o qual se criar neuroses. Existe epidemiologia pra isso. Rastreia-se toda uma cadeia de contactantes do caso com cliques em uma telinha. Interrompe-se uma transmissão com antivirais. Monitora-se sinais vitais por aparelhos minúsculos que transmitem os dados a centenas de médicos em todo o mundo.

E não teremos zumbis para matar. Quem quiser curtir um clima bélico deve se mudar para uma das Coréias e vivenciar uma guerra que está acontecendo ininterruptamente há mais de meio século, com uma trégua que está longe de ser satisfatória reinando há algumas décadas.