25.5.09

"O espaço, a fronteira final...

...Estas são as viagens da nave estelar Enterprise, em sua missão de cinco anos para a exploração de novos mundos, para pesquisar novas vidas, novas civilizações, audaciosamente indo onde nenhum homem jamais esteve!"

E assim começava a icônica abertura de "Jornada nas estrelas", a série mais cultuada de todos os tempos. Promovendo um futuro onde a grande ocupação da humanidade seria angariar conhecimento, explorar, conhecer novos povos e sem absolutamente nenhuma, NENHUMA menção a dinheiro, ela trazia o futuro mais fantástico já espalhado pelas mentes da grande população.

"Jornada nas Estrelas" é realmente absurda. Personagens geniais; uma linha dramatúrgica coerente antenada com o que havia de mais moderno havia na cultura da época (e ainda é incrivelmente atual), que é o realismo mericano de Arthur Miller e Tennesse Williams; atualidade e percepção da realidade como nada antes ou raramente depois...

E fui ver o filme. Muitos o acusaram de espetacularizar o tema, numa espécie de síndrome de adolescentização que é típica do cinema pós-"Guerra nas estrelas". Discordo, Jornada sempre teve ação, mas ela não era a da era dos Spielbergs e James Camerons que nasceu nos anos 80. A crítica fica exatamente aí onde essas duas extremidades da Sci-Fi se encontram.

"Guerra nas estrelas" é estrutura narrativa mítica básica. Conto de fadas mesmo. Como coloquei lá em cima, "Jornada" é parte de uma corrente dramática que visa discutir a atualidade e se embrenhar em um mundo moderno, onde existe psicologia, discussão sobre hábitos e revolução de costumes.

Comparando bem, o filme de Lucas é um lindo quadro de naves espaciais pintado com carvão, e a série de Roddenberry é a imagem de uma guerra de hoje em dia em 3D feita no CorelDraw mais moderno que você conhece. Além disso, as linguagens de TV e de cinema são diferentes.

Mas "Jornada" é revolucionária desde sempre. Medicina não-invasiva? o hoje subestimado personagem McCoy carregava consigo um ultrassom/tomógrafo/analista clínico portátil e sempre estava um passo à frente dos burocratas ao atender as pessoas. Meio-ambiente? Tá lá, discutido com maestria no episódio dos bichinhos peludos que se multiplicam sem parar. Preconceito e guerras ideológicas? No episódio dos povos com a cara metade preta e metade branca. Mais preconceito? Uhura foi a primeira atriz negra regular em uma série. Guerra fria? Os klingons eram parecidos com o clichê americano para russos, mas havia um russo na tripulação. E um japonês, quando os traumas da 2º guerra ainda eram recentes e o Vietnã estourava.

Tudo isso pra dizer: Vão ver o filme. Entendam que é um universo paralelo ao que nós já conhecemos, que os personagens são imaturos, que o cara saído do senhor dos anéis, o saído do Heroes e o cara desconhecido são bons na reconstrução de seus ícones. A Uhura ganha destaque inédito, embora a relação que ela cria com os demais personagens sempre tenha sido insinuada na velha série. Há um porém: o vilão é péssimo. Se o objetivo era criar um babaca, eles conseguiram. Nunca houve um vilão tão sem graça em um filme com tanto orçamento.

Mas eu sempre me arrepiarei com a abertura. Sou da geração que cresceu admirando exploradores, pessoas cuja fome por saber era maior que os problemas mundanos. Meu ídolo supremo dos quadrinhos ironicamente é o Patinhas de Carl Barks, que por dinheiro explorava o mundo, e no final sempre nos deixava com vontade de saber mais sobre os povos que ele conhecia. Nos documentários, o Cousteau ia audaciosamente onde ninguém jamais afundara. Na TV, Kirk, McCoy e Spock. Uma era de conhecimento advinda dos primeiros desbravadores daquelas civilizações do outro lado do mundo. Marco Polo foi o primeiro tripulante da Enterprise.

E claro, há um sabor todo especial em ver Leonard Nimoy recitando a frase "Vida longa e próspera" para ele mesmo mais novo.

PS:  A atriz que interpretava Uhura na TV queria desistir da série, pois sofria na mão dos produtores. Martin Luther King em pessoa a convenceu a ficar para dar á comunidade um símbolo. Posteriormente, ela se tornou responsável na NASA por contratações de minorias, abrindo espaço para negros irem realmente para o espaço como ela já fora ficcionalmente. George Lucas não tem uma história como essa para contar sobre seus filmes.