20.1.08

IPEC

Mais ou menos quando os mamutes se extinguiram, quando eu acabava a faculdade, um maluco apareceu, um conhecido de um dos professores, e convidou a classe para um curso sobre ecologia de botos na região do Lagamar.
Não sei se você já sabe, mas 99,99% dos biólogos sentem um arrepio de luxúria ao ouvir "estudar golfinho". No final das contas, quem pôde ir foram poucos.
O tal maluco, o Fernando, estava ali como representante de um instituto que nascera há talvez umas duas ou três horas antes. Dedicaria-se ao estudo das questões ambientais e, posteriormente, sociais da região de Cananéia.
O lagamar, área de estuário gigante na divisa do Paraná com São Paulo, é absurdo. a biodiversidade dali faz inveja a provavelmente todo o continente europeu e à América do Norte. Resultado óbvio, todos se apaixonaram pelo lugar e também pela idéia daquele povo que tocava um instituto de pesquisas apenas para aquele pedacinho de mata, a maior área de mata atlântica preservada onde já pisei.
Desde então, voltei à região algumas vezes. Fui e voltei à zoologia, minha área de paixonite inevitável. Qualquer pessoa que queira-me como amigo sabe que eu não hesitaria um instante se fosse convidado a ficar 3 meses no meio do mato olhando bicho. E sabia do que acontecia ao pessoal do IPEC. Fiz outras idas até lá com aquele povo (A melhor tainha e camarões que já comi foram graças a eles). E ver algo que vi no início manter-se de pé me manteve são durante alguns anos de afastamento dos trabalhos mais saudáveis da vida.
Semana passada fui até Cananéia novamente. Afora o fato de ter sido cercado por áreas de calamidade pública, ter perdido a placa do carro com buracos e lama, exigido demais da suspensão e calotas da pobre Ranilda (o carro) e visto muita, mas muita chuva o tempo todo, pude fazer uma visita até o IPEC.
Como? Passando pela cidade vi uma placa em uma das casas antiguíssimas do centrinho da cidade. Uma sede de apoio à pesquisa. Pôsteres nas paredes e pilhas de trabalhos espalhados pelas estantes me mostravam que os estudos iam bem, e logo soube que não apenas uma casa para ajudar aos pesquisadores funcionava, mas também um centro de cultura caiçara tocado pelo IPEC, onde se davam os cursos, memória e estímulo ao mundo bravo e em risco de extinção dos moradores tradicionais do lagamar. Fui muito bem recebido apesar da queda de pára-quedas por ali, e saí com um enorme sorriso no rosto de ver uma coisa que me foi apresentada como sonho estar a pleno vapor e apesar das dificuldades de fazer ciência em terras tupiniquins manter uma produção e uma respeitabilidade prática!

Parabéns, Fernando, Gica, Letícia, Emygdio, Fri e todos que conheci soprando a traseira do "lobo-marinho" para economizar combustível. Que afinal seja mais e mais daqui para a frente, e repetindo, não custa chutar o pau da barraca e fazer das tripas coração para fazer sonhos andarem. Eles começam a andar sozinhos antes de precisarmos sofrer para vê-los.

Para quem quer saber mais:
http://www.ipecpesquisas.org.br/