20.1.07

O ROCK´N´ROLL ESTÁ VIVO

Houve quem dissesse que o rock estava morto ou, no mínimo, errou.

Se tem algo a que eu sou eternamente grato é ao monte de músicas que minha irmã espremeu no computador. Até elas brotarem lá, vindas sabe-se lá de que balada, de que bares obscuros da noite Paulista, eu estava imerso em um cemitério, saudando os poucos e vagos ecos que vez ou outra vinham do Pearl Jam ou U2. Meu gosto musical necrófago passeava com novidades retumbantes como Red Hot Chilly Peppers ou, chutando altíssimo, Prodigy, de quem eu conhecia uma ou outra música.

Não ajudava o fato de que o século, o milênio começou com uma onda saudosista de quando? Dos meus amados anos de infância, famigerados 80´s. Claro que é fácil ser badalado nesta primeira década do século. Basta ter mais de trinta e lembrar de desenhos antigos, de qualquer coisa com cara fofa que emos usem estampado na bolsa e uma dose e tanto daquilo que era reconhecida, escancarada e hilariantemente exagerado. Você lembra do Supla arrotando no programa da Hebe com a sua banda, a Tókio? Você é bom! Você sabe que o B52´s veio ao Brasil em 1985? Você é um mestre. Você viu o Nirvana no palco? Você é um deus! E eu me encaixo nisso tudo.

E para não dizer daquilo que faz o estofo musical da minha vida. Todos morreram antes ou logo depois que eu nasci. Jim Morrison, Janis Joplin, John Lennon, Elvis Presley, Jimmy Hendrix e por aí vai. Mais uma tonelada de bandas cujos membros já poderiam ter pedido aposentadoria no nosso sistema previdenciário. Stones, Purple, Maiden, Chuck Berry, AC/DC, Scorpions e por aí vai.

E de repente, estou passeando pelo modo aleatório do player e me deparo com Yeah Yeah Yeah´s! Que surto! Eu já vinha sendo preparado de leve com Franz Ferdinand, Pitty, Strokes e White Stripes, mas nada me deixou pronto para ouvir essa banda de nome nada a ver e onomatopéico.

E depois. O som redivivo das Runaways nas Donnas, a regravação ultrasexy de “My Sharona” pelo Veruca Salt (quem lembra o que acontecia com a Veruca Salt da fantástica Fábrica de Chocolates original?) ou a alegria-guitarra-e-som-na-garagem-da- vovó de Motores? E o que é aquilo que toca o povo do Vive la Fete e o Le Tigre? Até bandas já conhecidas tinham sons mais estranhos, como Garbage ou o maluco de cartilha oitentista Marilyn Manson. Mas não me peça para reconsiderar o funk...

Adianta chorar pelo passado? Será que dá para, a esta altura, exigir que uma dessas bandas seja boa para meus ouvidos como é Creedence Clearwater Revival? Treinado, condicionado, minha audição jamais saberá entender Placebo. Mas Placebo é chato. Mas será que vou entender o que raios é o já velhinho Radiohead? E Plastics? E Cansei de Ser Sexy? Peaches? Dominatrix?

Não, admito que jamais verei a genialidade delas, embora isso ainda não tenha tido oportunidade. Meus padrões sabem que independentemente do jeito totalmente diferente de fazer música, ainda não saiu dessa geração nada que se compare a “Misty Mountain Hop” ou “Time”. É bom? Pode até ser, mas é mais ou menos como apreciar comida japonesa. Você pode saber se é gostoso ou não, e até comparar pratos e saber qual cozinheiro faz algo melhor, mas nunca saberá exatamente o quanto já que seu paladar parte do bife com fritas para julgar.

Mas isso não faz com que sushi não possa ser seu prato principal. Isso não impede que eu possa sair honrar meus mortos e ir lá aprender a apreciar essa gente viva e boa pra cacete que está tocando agora em lugares que eu não fui e em rádios que não existem. A melhor música não passava nas rádios, hoje e sempre, até que alguém com mais de trinta tenha ido lá e desbravado.

Long Live Rock´n´Roll! We still crazy after all this years!