25.7.09

Verde que te quero verde!


Existe um tremendo preconceito contra ambientalistas. Basta o pobre coitado do humano dizer que o meio ambiente está sendo destruído que pinta um engraçadão dizendo "Ah, você é do tipo que vai pra moita com a garota e come a moita, né?"

Isso acontece por causa do início do movimento ambientalista. Quem entendeu o problema explicou ao mundo, mas quem captou a mensagem na época foram os que estavam naquele exato momento repudiando o atual sistema social e viram na destruição ambiental um sintoma disso: os hippies, os beatniks, os excluídos, os engajados (ou em uma visão de quem estava conformado: os drogados malucos, os revoltados, os pobres e feios imigrantes, os frustrados, os comunistas...).

Cretinos a parte, a crítica útil mais comum é simples: pessoas não deviam ter prioridade nas decisões? E eu entendo isso. Fica difícil entender os motivos de não destruir a floresta da centopéia de peito rosado se fazendo isso vamos abrir espaço para produzir comida para os famintos e espaço para casas próprias. Mas é fácil: um mundo onde existe a centopéia de peito rosado é o mundo onde humanos podem viver. Um mundo sem centopéias de peito rosado é um mundo diferente daquele onde o humano nasceu.

A questão é: nós JÁ produzimos comida o bastante para dar 2500 calorias para cada um dos 6,5 bilhões de habitantes humanos da Terra. E sobra para os bichos de estimação de todos. Aí você se pergunta como ainda vemos imagens da Somália com centenas de pessoas esqueléticas num acampamento dos médicos sem fronteiras? Fácil: vá ver como são bem nutridos os políticos da Somália, os guerrilheiros da Somália, os reis do petróleo árabes, seu vizinho que joga fora meia pizza sempre que não tem visitas em casa, as vitimas da epidemia de obesidade dos E.U.A. e Europa...

Explico outro detalhe: se a tecnologia de produção de alimentos mais moderna fosse usada em todas as áreas hoje em cultivo da América do Sul, a produção dela bastaria para alimentar o MUNDO! Não ia ter carne no prato de todos, mas daria tranquilo. Se fosse usada nas áreas hoje cultivadas (isto é, sem derrubar uma árvore a mais, sem usar os campos abandonados de cultivo ou as áreas de pastagem já em uso) do planeta, todos os habitantes da Terra teriam 4 refeições por dia, com carne pelo menos 3 vezes por semana e sobremesa. SEM precisar aumentar os níveis de pesca ou a produção de carne mundial de hoje.

Mas a tecnologia mais moderna depende de pagamento de royalties e da permissão de todos os que ganham com a miséria.

Sabiam que o viagra é o mais poderoso instrumento na luta contra a caça ao rinoceronte? Eles são mortos, principalmente, devido aos supostos poderes afrodisíacos do pó feito com seus chifres. O viagra diminuiu a procura por chifre de pó de chifre de rinoceronte a níveis muito menores do que a média histórica. O bicho ainda corre risco de extinção, mesmo assim.

Um aumento de 2 graus na temperatura da Terra terá efeitos graves na disseminação de doenças, destruição de áreas férteis, secas, tempestades, elevação dos níveis do mar e muitos outros.

Um estudo recente mostrou que comunidades brasileiras que vivem ao lado de uma floresta preservada na região amazônica retirando, de forma sustentável, seu sustento pelas últimas décadas, possuem renda per capita X. Quando aparece, por exemplo, uma madeireira ou mineradora predatórias, a devastação faz a renda crescer pra algo como 1,5 X durante o período de exploração, o que alegra o caboclo. Quando a floresta (ou os recursos abaixo dela) acabam, os donos da tecnologia vão embora e largam a comunidade original sem a floresta que os sustentava antes, sem dinheiro e com uma renda per capita pior do que nunca.

Aí entram outros aspectos menos defensáveis: o cara que reclama pois ambientalistas não o deixam fumar dentro do bar e o obrigam a revisar seu carro, a perua que não pode mais sair de casaco de peles e não liga em ter raposas mortas em cima de si, o fulano que tenta convencer o amigo vegetariano a comer um bifinho.

Todos tem direito a respirar, portanto não merecem atenção os que repudiam leis anti-fumo ou inspeções veiculares. Na remota hipótese de um dia existirem fazendas de produção de peles que não usem de tortura ou de condições precárias de criação de animais de pele, podemos volta a discutir o assunto, pelo mesmo ângulo do vegetarianismo. Francamente, ser vegetariano pode incluir uma questão pessoal de não gostar de animais que sofreram no prato e uma questão geral muito mais séria, que é o fato de que a alimentação, espaço e água usados para um único boi, antes de chegar no prato, seria o bastante para abastecer FAMÍLIAS inteiras.

Um último adendo. Os ambientalistas são malucos, que fazem arruaça na rua, fumam maconha e sei lá mais o quê. São como roqueiros que ao invés de destruírem quartos de hotel se amarram em árvores e querem tirar o emprego de trabalhadores honestos.

O Midnight Oil é uma das bandas que mais ferozmente se engajou, durante quase 30 anos, na divulgação de mensagens de preservação ambiental e proteção à cultura aborígene (eles são australianos). Suas letras denunciavam mineradoras, políticos, alienados e seus shows eram um saco de produzir, pois eles exigiam compensação ambiental pelos danos que o evento eventualmente causasse.

Pois bem. O roqueiro maluco que cantava no Midnight Oil é hoje o ministro do ambiente, cultura e ancestralidade da Austrália. Entrem no site de Peter Garret e vejam-no, ainda careca e com a mesma cara de maluco, criando leis e meios de educação ambiental. O rock, de fato, está cheio de ambientalistas que fizeram muita arruaça. Mas eles fazem mais barulho ainda do que antes...

Um comentário:

Mary Joe disse...

Ricardo, como sempre seu texto é brilhante. Adorei particularmente a parte sobre o Viagra e o rinoceronte...

Acho que uma consciencia social é muito mais do que discursos belos enquanto no dia a dia não mudamos nada.

Também gostei da parte sobre o Midnight oil, que adoro, e naõ sabia desse lance dele ser ministro atualmente.
Obrigada Ri, por trazer a esse mundo virtual conhecimento com uma cara leve e divertida.
Beijo carinhoso
Mary Joe