10.7.09

Os cabelos de Lionel Ritchie


Este texto nasceu antes da morte do rei do pop. Referia-se a outro dos grandes cantores negros que emergiram da Motown, a gravadora mítica que recriou a música ao trazer para a massa a música empolgante dos negros americanos, sem deixar esta presa às convenções do gueto.

Já dizia o Scandurra, do Ira: Se é pra fazer sucesso, não adianta fazer folclore. Isso significa que se deve, mesmo quando se cria música regional, buscar a universalidade do que dizemos. Nenhuma arte é grandiosa se só diz algo a um grupo privilegiado de pessoas que entende seu significado.

Lionel Ritchie surgiu como primeiro vocalista do lendário grupo vocal “The Commodores”, nos primórdios da Motown. Alçou vôo solo nos anos oitenta, primeiro compondo para o cantor country Kenny Rogers, depois com um mega sucesso com Diana Ross (Endless Love) e um disco recheado de sucessos. O maior deles foi
“All night long”, duramente criticado por supostamente perpetuar, com sua “pegada caribenha”, que a música negra podia ser reduzida a uma coisa só. O cabelo antes “Black Power” domado em um enroladinho molhado não ajudou.
Ritchie reagiu fazendo mais sucesso, e com dois exemplos que passavam por cima da idéia de cor na música.

A oscarizada (vejam aqui: http://musicaseleituras.blogspot.com/2008/09/as-trilhas-sonoras-do-oscar-say-you-say.html) música para o filme “O Sol da meia-noite”, um libelo da arte contra a barbárie, ali representada pelo estado soviético repressor. Mas não só: o personagem representado por Gregory Hines fugiu dos Estados Unidos para viver como dançarino na então U.R.S.S. após um colapso emocional causado pelo horror perpetrado por seu país no Vietnã. O filme transita entre a barbárie dos dois mundos (comunista e capitalista), e embora a opção hollywoodiana seja pelo país onde há mais liberdades individuais, as críticas são para os dois lados. A “liberdade americana” tem um preço alto em sangue, racismo e dor. A arte (no caso, a dança) é a única coisa acima da mesquinharia humana.

O segundo exemplo foi “We are the world”, música que escreveu, diz a lenda, em dez minutos com Michael Jackson. Sob a batuta do fantástico Quincy Jones, a música promovia uma arrecadação de fundos mundial para aliviar a fome na Etiópia. Estudos posteriores demonstraram que a entrada de dinheiro sem planejamento em países sem estruturas políticas sustentáveis era apenas um paliativo, com boa parte deste dinheiro escoando pelos bolsos da corrupção estatal. Mas a música fez história: catapultou sucessos (Bruce Springsteen entre eles), mostrou ao mundo que a fome era um pesadelo ainda presente, mostrou que as causas sociais importantes estavam além da questão de cor e credo,e fez de Ritchie e Jackson astros conscientizados aos olhos de todos.

A carreira de Lionel Ritchie acabou prejudicada depois por “N” problemas, de drogas a problemas administrativos. Hoje, há quem se lembre dele apenas como pai da socialite Nicole Ritchie, que certamente faz um desfavor digno da Ku Klux Klan ao negar sua negritude ao aparecer cada vez mais branca e loira na mídia. Vejam-na no passado na foto ao lado. Hoje, alisamentos, descolorações e chapinhas tentam apagar o negro nas cabeças alheias, “caucasiando” o máximo possível os gostos pessoais.

Mas Ritchie está vivo e bem, e enquanto esteve desaparecido da mídia, resolveu suas pendengas financeiras e hoje é um dos poucos artistas que após tanto tempo sem grandes sucessos mantém um patrimônio invejável, e crescente. Quem você acha que paga as extravagâncias da dondoca Nicole ao lado da multimilionária Paris Hilton? Dizem por aí que Beyoncé, se não abriu um processo por ter sido “desbotada” nas fotos de uma propaganda de cosméticos que fez, criou uma bela polêmica com isso. É um bom sinal.

3 comentários:

Unknown disse...

Michael Jackson ganhou a fama pelo seu "branqueamento", mas quantos são os negros que na indústria musical dos EUA, "desbotam" frente o "establishment" e passam desapercebidos? E vamos acertar que o histórico de quem "foi pro pau" naquelas terras, por conta da questão racial é vasto!
Save Lionel! Say you, Say me.

Mary Joe disse...

Ri, acho que Lionel Richie superou a si próprio, e mais, superou Michael Jackson num quesito muito importante: equilibrio emocional.
Acho que seu trabalho pode não ter sido tão marcante, mas sem dúvida teve mais continuidade.

E adorei saber de Beyoncé. Acho que ainda temos salvação, rs...

E sabe, até hoje adoro "Say you, say me"... ainda tenho o compacto. Lembra? Daqueles disquinhos de vinil que só tinha uma música de cada lado?
Gostei do seu texto.
Mary Joe

Mel Sliominas disse...

Claro que era Deep Purple! Hoje cedo eu estava pensando "tem alguma coisa errada, não é Dream theater...". Porque pra eu saber quem cantava esta música TÃO DA HORA, eu tive que cantar o barulhinho da guitarra pra um amigo do rock (mesmo). Imagina como foi a cena...
Claro que é DEEP PURPLE!!!!
Já corrigi o texto! Valeu!
beijos
MEL