3.4.07

300!

E enfim eu fui ver algo que eu esperava há mais ou menos uns dois anos: Os 300 de Esparta, ou, como acaba de ficar popular, simplesmente 300.
Quem me conhece vai logo fazer a pergunta clássica: "É fiel ao quadrinho?" e todas as suas variações: "é bom, é melhor ou pior, os atores calharam certo dessa vez, o Santoro dá conta do recado, as imagens são perfeitas?"
Irrelevante. É de longe a melhor adaptação de uma história em quadrinhos já feita. A fidelidade beira o impossível, (pecando apenas pelo tom politicamente correto que permeia o filme todo, mas eu já explico por quê isso pode ser deixado para trás). O autor, Frank Miller, que me perdoe, mas nem ele mesmo adaptou tão bem uma história sua em Sin City quanto Zack Snider com o 300. E olha que Sin City era até agora minha campeã em fidelidade.
Em fidelidade mas não em cinema. 300 consegue a proeza de ser fiel na medida do possível, acrescentar aqueles pedaços que nós colocávamos entre uma cena e outra, funcionar como cinema e não deixar a mensagem esvanecer.
A acusação iraniana de que o filme foi feito agora para falar mal dos persas esbarra em uma coisa óbvia. Não é uma aula de história. Mesmo supondo que 300 espartanos tenham realmente defendido com alguma utilidade o desfiladeiro das termópilas, o que se passa no quadrinhyo não é factual ao extremo. Na verdade, pode ser entendido como mais uma vela na escuridão contra as limitações que o homem coloca a si mesmo a título de espiritualidade, ou sistemas de governo.
Americanos rejubilam-se com a palavra democracia e os espartanos não eram exatamente o que nós chamamos de democráticos? Sim. Os persas não tinham monstros deformados e reis divinizados em batalha? Sim. O filme pode ser visto como uma mensagem política contra teocracias? Sim, e aí os americanos atiram no próprio pé, pois o presidente deles é um dos que levam a bíblia para o campo das leis. O Irã pode se unir aos americanos para protestarem.
Mas o que importa é que os espartanos foram o povo mais durão de todos os tempos. Se alguém poderia ter feito aquilo, foram eles. E Gerard Butler está fantástico como o personagem em quadrinhos mais bem desenhado de todos os filmes. Ele é um desenho ambulante.
E sim, o Santoro foi manipulado digitalmente. Ele não tem dois metros de altura.
E para quem gosta de sangue, é um prato cheio.
Ele tem milhões de defeitos preconceituosos para quem está na onda do politicamente correto. A minha crítica favorita não gostou nada disso (vejam o que ela diz: http://www.lost.art.br/lola_300.htm). Mas eles atenuam até a medula o original. Sem perder a dureza, O rei agora sugere ao corcunda que ele ajude longe da batalha, a rainha tem papel importante, Xerxes não é negro, e os soldados de Esparta não apanham dos outros soldados de Esparta quanto demonstram fraqueza. Isso é ceder ao gosto do grande público, mas se do jeito que está ele já vai sofrer com os mau-humorados críticos do politicamente correto (e lembrando que dois mil anos atrás toda guerra era étnica) Imaginem se o Leônidas despacha o corcunda pro Hades por ele ser disforme. Como ERA o costume de Esparta.
Em suma, não levem mocinhas que se digam virginais ou senhoras conservadoras, não levem intelectualóides e homens de terno e gravata, e assistam sem medo, divirtam-se muito em plena catarse, e lembrem que os bichos são de computação gráfica.
E depois da sessão, quero ver quem não acha que Esparta tinha uma ou duas vantagens sobre o Brasil.

Um comentário:

lola aronovich disse...

Oi, eu sou a sua crítica favorita, a Lola! Tudo bem? Gostaria de saber se no seu comentário eu entro como donzela virginal ou senhora conservadora... Abração!