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12.9.10

Mandela day




E hoje eu fui visitar Robben island (algo como "ilha dos ladrões" em Afrikaner), a mais famosa prisão política da história recente. E foi lá que Mandela passou a maior parte do seu tempo preso pelo regime político-terrorista chamado Apartheid.

A experiência é poderosa. Claro, como tudo, Mandela virou um grande negócio, e com as visitas não é diferente. Um lindo catamarã leva, acho, umas duzentas pessoas em cada uma das 4 viagens diárias, e sempre cheio nos fins de semana. Há montes de quinquilharias e lembrancinhas (quase comprei um Desmond Tutu de pano) Claro, parte do chique porto chamado Waterfront, o equivalente daqui ao Corcovado e suas turistices.



Cinismo a parte, falei com um grupinho, descobri que escolas pedem a seus alunos que façam trabalhos sobre a visita (o grupo tinha estudantes de toda a África do Sul). Uma outra guria falou sobre o quão diferente Capetown é do resto do país, e que se tornou uma espécie de modelo para o restante.

Confirmando minha impressão de que julgar a África do Sul por Cape Town é mais ou menos a mesma coisa que julgar o Brasil por Florianópolis ou Curitiba.

E a ilha: preservada pra caramba, mas dessa vez, o que me chamou mesmo a atenção foi o fator humano. Guiado pelo genial Zozo, um ex-preso político, e possível sentir o horror daquilo tudo. Mas aparentemente as prisões políticas do Brasil eram piores. Zozo era preso político comum, mas conhecia, gracas aos momentos de trabalho forçados na pedreira, todos os grandes líderes, que eram mantidos em uma ala separada apenas com solitárias.

A pedreira, é dito, foi o primeiro parlamento democrático verdadeiro da África do Sul. Robben Island ficou conhecida como "a universidade", pois ali os presos de diferentes organizações trocavam idéias, ensinavam os mais jovens, montavam a nação livre em suas cabeça, planejavam a futura constituição.

Detalhe curioso: no Brasil, quando fizeram uma prisão em uma ilha e enfiaram presos políticos nela, misturaram presos comuns e disso nasceram organizações criminosas no Brasil. Lá, eles se preveniram. Robben Island só tinha preso político!

O tempo limitado da lan house nao permite entrar em detalhes... mas creiam, valeu muito a pena. Vamos convir, custou o equivalente a uns 40 reais. Vale muito mais do que isso!

17.2.10

Cantoras em ternos de 3 botões

Acabou o carnaval e para todos os lados só se falava de desfiles e suas passistas, de Paris Hilton sendo carregada bêbada, de Madonna e seu chaveiro brasileiro assistindo sambistas sérios obrigados a darem showzinho particular a ela e do clipe de Alicia Keys gravado em Salvador onde Beyoncé se vestiu de brasileira-clichê-de-cartaz-de-turismo-sexual.

Embranquecida?

E é dessa última pessoa que vou falar aqui. Sim, admito, a Beyoncé é uma cantora competente, uma dançarina exemplar, uma musa pop indiscutível e tem uma carreira sólida e acima da média da mediocridade geral. Não que isso signifique alguma coisa em um mundo onde existe Avril Lavigne ou Justin Timberlake.

A questão está toda aí. Beyoncé é, em última instância, a musa pop dos sonhos mais conservadores e caretas do mundo. Não que eu exija dela ser uma Wendy O. Williams, mas ela é comportada demais, careta demais, sem sal demais.

Quem é Wendy O. Williams? Ó destreinado no mundo do punk rock, a senhorita Williams é a vocalista que se suicidou da icônica banda Plasmatics, ex-atriz pornô, a mais nua das mulheres a pisarem para cantar em um palco e nos seus últimos anos militante dos direitos dos animais e do vegetarianismo Straight edge. Os motivos de seu suicídio são pouco claros, mas ela era o extremo oposto da atual rainha do pop. Confira: http://www.youtube.com/watch?v=Q2eynNh5xHM

Beyoncé não tem a mínima obrigação de ser politicamente correta? É completamente alienada em termos de economia e política mundial, como demonstrado no episódio recente onde ganhou para fazer um showzinho particular pago pelo bolso de milhares e milhares de súditos do ditador Muammar Gaddafi da Líbia. Igualzinho ao que Elis Regina fez quando cantou "O bêbado e o equilibrista", provocando a ira de toda uma casta de velhos militares de um governo nada democrático tupiniquim, sabia? http://www.youtube.com/watch?v=6kVBqefGcf4

Adoro técnica vocal, amo trabalho bem feito. Mas até mesmo em palco Beyoncé parece técnica demais, perfeita demais. O uso de playback poupa o artista e torna tudo mecânico, é certo. A espontaneidade de uma avalanche de gelo de um show dela a torna um maravilhoso produto plástico, idêntico ao estilo de Janis Joplin em uma de suas raras composições, "Mercedes Benz" ( http://www.youtube.com/watch?v=i-4AheUl6ls ) e sua música de "social e poética importância", em suas próprias palavras, cantada com emoção indescritível, técnica péssima e suando às bicas gritando contra o excesso de consumismo.

Não tem a mínima obrigação de ser polêmica. Seu hit absoluto, "Single ladies", tem o horrendo subtítulo "ponha um anel nela", levando-nos a um monstruoso passado recente onde mulheres só tinham algum valor após se casarem (sem contar a coreografia pobre e vergonhosa que deve fazer a coreógrafa e cantora Paula Abdul se esconder debaixo da cama). Madonna lutou para libertar a reprimida sexualidade feminina por tanto tempo para agora o pop ter uma rainha defendendo o mesmo que minhas tias-avós?

Beyoncé, ao contrário do que foi dito por aí, NÃO quebrou o pau com a empresa de cosméticos que branqueou a foto dela usada em uma propaganda pois sua cor negra não combinava com o produto e com a imagem da fábrica.
Igualzinho a Billie Holiday, a menina que se tornou a Deusa do Jazz após ter lutado por anos com uma infância miserável, uma adolescência de prostituta e uma rotina de drogas e mais drogas para se manter acordada para os shows intermináveis exigidos para manter um padrão mínimo de vida (negra, pobre e ex-prostituta não ganhava muito, apesar de sua fama). Billie arriscou toda a sua carreira cantando a canção escrita por um judeu sobre "Strange fruits" nas árvores da Louisiana (os corpos dos negros enforcados pelos brancos sem julgamento, ou mesmo motivo em muitos casos). Confira COM CUIDADO, as cenas são assustadoras: http://www.youtube.com/watch?v=lGNIX4qa38E

Em suma, Beyoncé é uma agente da norma, rebelde como uma camisa pólo, cantando em prol da caretice e da falta de ousadia para encarar um mundo cheio de velhas respostas para novos problemas. Não fala mal de ninguém, não admite erros no sonho americano ou no sistema sócio-político-econômico-emocional-ambiental do planeta.

Ambiental? É, ela usa casacos de pele. Para quem nunca viu como um casaco de pele é feito, pode perguntar a outra grande cantora, Chrissie Hynde, dos Pretenders, que até presa já foi enquanto protestava junto às maiores ONGs de defesa do ambiente.

Estamos mal de musas pop...