2.12.06

FILMES PERFEITOS - OS ANOS OITENTA

Muito já se falou acerca da pasteurização do cinema que se iniciou quando George Lucas lançou “Guerra nas estrelas”. Tentam colocá-lo em uma onda que se iniciou em “O poderoso chefão” e que vem até os dias de hoje de filmes que faturam horrores e muitas vezes não dizem nada. Claro que os dois exemplares citados acima são ricos em leituras e funcionam tanto como arrasa-quarteirões como também como cinema.

Ms houve um momento em que o cinema entendeu que podia contar as histórias que todos queriam sem se preocupar em parecer burro demais ou agradar a academia. São aqueles no limiar entre a melhor coisa para se fazer como trabalho de filosofia e melhor coisa para se ver na sessão da tarde. Os filmes perfeitos.

Muita gente vai discordar, apelar para a velha Hollywood e evocar os nomes sagrados do cinema sério, e provavelmente ninguém se dá conta dos inúmeros significados inseridos neles. Mas vamos á lista e vocês entenderão de quem estou falando. Enquanto isso, torçamos para que a bilheteria deixe de ser tão predominante e voltem a arriscar alguns milhõezinhos de dólares (nem são tantos, nada de novos “Titanics”) para voltar a ver filmes como estes nas telonas. E não liguem: não há ordem. Não há hierarquia na perfeição!

“Curtindo a vida adoidado” : Alguém mais acha que Ferris Bueller é o novo Prometeu? Ninguém nunca sonhou em dirigir uma Ferrari com o melhor amigo e a Mia Sara do lado e tocar uma zona na cidade inteira? Nada é melhor que isso para sair da deprê! E ainda tem a glória em música de reapresentar “Twist and Shout” a toda uma geração.

“Indiana Jones e o templo da perdição” e “Os caçadores da arca perdida” : Começa com a Música que remete qualquer um a outro universo. A obra prima de John Willians toca imediatamente nos ouvidos quando ouvimos a palavra “aventura”. Injeção de adrenalina com aula de mitologia e história oculta, muito antes dos passos de pato do “Código da Vinci”. Onde aprendemos o que é a saga do herói mítico. O terceiro filme (ou colocado? “A última cruzada”) até se esforça, mas não chega aos pés dos primeiros. Se aventura tem nome, todos aprenderam ao ver Harrison Ford pela primeira vez a estalar um chicote.

“O clube dos cinco” : Também conhecido como “o melhor jeito de fazer um filme custando uma bagatela com um bando de amigos, uma pusta idéia na cabeça e metade dos pesadelos, sonhos e visões de mundo da adolescência universal”. Além de tudo isso, tem a Música mais gritável no topo de uma montanha de peito nu na ventania de todos os tempos: “Don´t you (forget about me)”.

“Aliens, o resgate” : O melhor filme de ação de todos os tempos? Talvez. Uma criatura biologicamente bem bolada, horrivelmente verossímil, uma mãe protegendo a cria de cada lado, o padrão de personagens de filme de ação copiado por todos a partir de então (o covarde, o burocrata traidor, o comandante durão, a durona, o técnico, o legal...), e uma inspiradíssima Sigourney Weaver arrastando o elenco nas costas. Tem ainda o mérito de uma rara continuação que não envergonha o original. Além, é claro, da mais fria e tensa Música tema para um filme. Igualmente copiada à exaustão.

“Footloose” : A síntese do espírito. Conservadorismo americano mostrado como é e a receita de como irritar gente entorpecida pelo comodismo. A jornada para trazer o novo, em versão que ninguém podia resistir à vontade de sair pulando. A música-título ainda é esperada nas pistas de dança do mundo todo, e desbanca qualquer outra.

Qualquer uma das comédias românticas da Molly Ringwald e do Patrick Dempsey : para citar alguns, vamos a “Gatinhas e gatões” e “Namorada de aluguel”. Ambos simples de doer, mas tudo de que você precisa para desopilar o fígado e entender um pouco de como a mente humana começa a trabalhar. E quem não tirou sarro da “dança do tamanduá africano” nunca foi humano.

“Predador” : Arnold Schwarzenneger fez pelo menos um filme insuperável na vida. Até por que desta vez um diretor manteve-o abaixo da escala da história, o que infelizmente não se repetiu. Aqui, ele é o coadjuvante de uma história sobre o medo mais supremo do homem: o de virar caça. E do quão necessário é andar de mãos dadas com nossa natureza primordial.

Calma. Com sorte, o seu preferido ainda vai aparecer aqui.

“Goonies” : Outro fora da escala da perfeição. Toda criança, se tiver espaço, vai ser um goonie. Vai sonhar e encontrar tesouros e piratas pelo seu mundinho. Vai ser capaz de manter-se firme em sua bem-aventurança mesmo quando acontecem aquelas coisas que a trazem ao mundo adulto. Melhor ainda se tiverem um Slot para cuidar delas e tiverem a hilária Música da Cindy Lauper “Goonies ´r´ good enough”.

“Os garotos perdidos” : Sabe toda a onda de vampiros adolescentes, góticos e poderosos? Veio daqui e cai por terra antes da metade do filme. Com the Doors na caixa (e a Música-resumo do filme é a regravação fantástica do Echo and the Bunnymen de “People are strange”), os vampiros mostram sua pior face antes mesmo de acabarmos de admirar aquela vida idílica de imortalidade e sangue. E claro, lá estão as estacas e uma boa idéia.

“Conta comigo” : Outro com Corey Feldmann, o moleque mais freqüente dessa lista. Ninguém acredita, mas é baseado em um conto do Stephen King. E se três garotos podem fazer seu ritual de iniciação à vida adulta apenas com o desejo de provar a si mesmos que podem ver uma coisa do mundo da violência, e ao mesmo tempo essa história ser contada com inacreditável sensibilidade, então, somos todos capazes disso. E nem precisa lembrar da Música título (“Stand by me”) para chorar.

“Em algum lugar do passado” : Romântico até a diabete, mas imperdível, traz o Amor trovadoresco até nossos pés e depois nos joga dentro dele sem ao menos nos apercebermos que, não importa o que aconteça, queríamos sentir aquilo nem que seja por um segundo. E além disso, traz o Christopher Reeve em outro tipo de super-homem.

“A pequena loja dos horrores” : Uma característica desta lista é a originalidade. Neste quesito este filme que é uma regravação se enquadra, por perverter um filme “B” dos anos cinqüenta e transformá-lo em um “terrir” musical da Broadway delicioso e de morrer de rir. Merecia ser mais conhecido, nem que seja apenas para ver Steve Martin no papel do dentista sádico. Mas uma planta cantando com uma voz da Motown também é único! (Não sabe o que foi a gravadora Motown? Vai aprender!).

“Irmão Sol, Irmã Lua” : Você nunca viu esse na sessão da tarde? Não é para menos. Mergulhos tão abissais na mente da espiritualidade ocidental não saem impunes do cinema. Tudo que um dia você pensou que estava no coração do Dalai-lama ou de madre Teresa de Calcutá, em uma versão belissimamente dirigida.

“De volta para o futuro” : Fala, você também queria ir lá e ver seus pais como eram quando se conheceram, e de quebra mudar o destino da vida de todos à sua volta. Afora atravessar o tempo em uma máquina como o DeLorean com capacitor de fluxo, você poderia revolucionar a Música e o mundo ao criar o rock´n´roll tocando “Johnny be Good”.


Findos os anos oitenta, a idéia virou fórmula e fomos por água abaixo. Os orçamentos explodiram, a segurança se tornou absoluta, haja visto o enorme número de apostas mal feitas que afundaram estúdios quando se começou a aplicar o esquema hollywoodiano em larga escala para contar histórias imbecis, e então aqueles filmes lendários viraram apenas exceções em um mundo de “blockbusters” infantilóides. Hora ou outra aparece um filme genial, mas tão espaçadamente que ainda temos que rezar por um ano que preste na telona.

E esperamos que, um dia, possamos ver de novo uma revolução nascendo de nossas mãos, de preferência com a garota perfeita do nosso lado, com o carro de nossos sonhos e melhores amigos derrubando monstros burocráticos e lerdos.

E nada é definitivo. Qual é o seu filme perfeito?

4 comentários:

Perséfone disse...

FRATELLO SOLLE, SORELLA LUNA...?
Eu dei de presente pra minha mãe. É lindo de doer.
beijos.

Ricardo Avari disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Ricardo Avari disse...

Me disseram que faltou "Gremlins". Adoro Gremlins, mas ele não está na mesma classe de genialidade dos outros, se bem que ele e a continuação somados são uma bomba crítica e satírica fantásticas!

E tem a musiquinha-de-monstrinho-invadindo mais famosa do cinema. Nhánhanhanhá-nhánhá, nhánhanhanhá-nhánhá, nhánhanhanhá, nhanhanhanhá, nhanhá!

E outra. revendo o filme comentado acima... "Irmão sol, irmã Lua é de 1972! que mancada da minha parte. mas quando eu o assitia eram os anos oitenta, então que se dane. eu vou deixar o filme lá!

Unknown disse...

Como diria o finado J. Silvestre... "Absolutamente certo!"...