25.5.06

REINSTALAR O SISTEMA

Em algum lugar de hoje eu escutei apenas uma frase da Pitty e me veio este texto na cabeça.
Quem é Pitty? Onde você anda? Ah, como eu, nos últimos tempos está afastado de qualquer rádio ou programa onde apareçam as novidades da música. É a era do jabá ASSUMIDO. Mas se algum dia algo te chamou a atenção no que surgiu depois do Pearl Jam, então você sabe de quem estou falando.
Falo do alto de quem está de saco cheio da falta de organicidade do mundo e da música. Com alguma visão romântica sobre a música e odiosa quanto à POPularidade. Pitty é orgânico em sua temática ciberpunk que faz inveja a qualquer executor da trilha sonora de uma rave sem deixar de ser Rock. E isto é caro hoje em dia. Tem uma vocalista carismática, que graças à Deusa não vai ser convidada a posar na playboy e repetir a sina maldita que destruiu a ex-musa alternativa P.U.S., agora “Marabrás Sílvio Santos”, Syang. Um bom Rock´n´Tosco básico, ainda cru e cruel com os ouvidos dos avós, e com uma métrica que assusta os puristas da língua, que nunca entenderam o Roger “Ultraje” Moreira & Camões. Nada assim excepcional, mas durão. E, ainda por cima, sem ser do, nem se lixar para, eixo Rio-Sampa (No caso específico do rock, era eixo Sampa-Brasília com uma leve escala do disco voador do rock brazuca no circo voador, mas, nos últimos tempos, o rock brazuca está pra lá de fora dos eixos).
Mas o que escutei?
Reinstalar o Sistema.
Para os que, como eu, são filhos de uma época onde o “sistema” era uma palavra enorme, que os punks abominavam, que os hippies deram definição e mensuraram, os yuppies viveram e morreram, sabe que isso tem um peso absurdo na nossa forma de pensamento (e que carece de uma interpretação para as mentes de hoje, viciadas ainda mais nos efeitos dele mesmo). De fato, a visão racional-mecanicista-cartesiana impôs que o mundo deveria funcionar como uma máquina, e computadores são máquinas. Resumindo, o sistema pode ser entendido como o software falho que faz o mundo andar desse modo anti-produtivo e ineficaz, suicida e rumo a uma enorme pane que comprometerá todos as peças do hardware / mundo.
Só para não deixar de fora, é comum que os inconformados comuns digam que tudo é parte de uma conspiração de algum grupelho de religiosos, países, raças etc. Mas este é apenas mais um dos simplismos que nos convém quando nos deparamos com a impossibilidade de culpar a humanidade toda por sua burrice. Precisamos de um vilão com cara, não de um espelho. E é aí que a porca torce o rabo, ou a fragilidade do operador pinta.
Já faz quase um século desde que Einstein mostrou que a visão mecanicista onde o mundo ocidental se meteu depois da renascença era limitada e que ela mesma carregava dentro de si seus limites. A mecânica clássica se esvai quando enxergamos seus limites nos buracos negros e no começo do universo. Se esvai quando vemos a mesma quântica sobre a qual se baseiam nossos computadores de hoje (ou você não sabe que sem a física das incertezas que chamamos de “quântica” você não estaria lendo esse e-mail?).
Apenas o sistema de produtividade do mundo colonial não morreu com essa nova visão (de um século) e cresceu com a ignorância que este sistema manteve em suas bases. As revoluções estéticas do século XX falharam em mostrar a gente o bastante as suas idéias antes de serem deturpadas.

Vamos ver onde viemos parar:
Em que século mental a sociedade está ainda?
Estamos em um mundo onde temos o Prodigy e suas experimentações de peso de fazer inveja na grande maioria das bandas de metal, contrapondo ainda hoje, anos depois de surgir, a techneira já decadente que agoniza nas pistas e permite ao nosso bom e velho Rock´n´Roll mostrar a esse neto-coxinha o que é SOM e o que é rebeldia, 50 anos depois de nascer.
Onde um filme que fale de virtualidade encosta no budismo e sua noção de que o funcionamento do mundo se baseia em uma série de “reinicializações” que se manifestam a partir do erro.
E em que a gente consegue dar uma visão como esta, com citações e referências, impossíveis de serem interpretadas pela maioria mantida alienada, mas que enfim são acessíveis a uma boa parcela do mundo.
Então, analisando esse tipo de coisa e as que são óbvias (fome, miséria, destruição ambiental, injustiça social, políticos, capitalismo, comunismo, e milhares de outros “ismos”...) acabamos por saber que:
A - O sistema de compras, trocas, colonialismo, predatismo ambiental e retrocesso nas relações internacionais enquanto há um ressurgimento do regional (agora querendo reagir contra a uniformização) é falso, baseado em uma premissa falsa de mecanicismo e ignorância quanto à forma como as pessoas devem viver.
B - Que a forma de ser da vida e da cultura é independente do que acham os americanos ou os empresários, os políticos ou a música pop, os esquerdistas fósseis ou os historiadores-críticos- literários do politicamente correto.
C - E que a gente não quer só comida, a gente quer bebida, diversão e arte. Mas também que os Titãs acabem logo antes que fiquem constrangedores como a jovem-guarda.
Enfim, estamos repetindo, em outra linguagem, em outro tempo, em outra vida, o mesmo momento que os Hippies tiveram, que os Punks tiveram, que os Che Guevaras e Dantons da vida tiveram. A hora de mandar no mundo, de criar programas de viver que inviabilizem o mundo virtual submisso que existiu nos moldes antigos até agora, onde podemos reinstalar o sistema e fazer um movimento que revolucione um passo a mais a vida. Até o momento em que estaremos deixando a próxima geração chacoalhar nossa comodidade pós revolução.
A diferença desta vez é que temos a consciência que as revoluções devem se suceder eternamente se realmente queremos que as coisas se tornem melhores. Quando alguém vai nos reconfigurar, e saberemos, ao contrário dos burgueses que mudaram a França e caíram na farra, que a mudança é contínua e necessária. Que um dia seremos velhos que devem ser mudados, e não nos oporemos a isto. Pelo contrário, entenderemos que somos, enfim, Beats. Mais do que eram capazes de ser os nossos avós.
E que quando vierem atrás de nossas cabeças, nós reinstalaremos o sistema e aqueles acostumados com o mundo como era se perderão na formatação do novo.
Alguém me desconfigurou?

Nenhum comentário: