
Dali de onde partem os navios para terras distantes, pescadores ociosos passam suas horas de aposentadoria ou sobrevivência aguardando dádivas vindas das profundezas, nasce talvez o mais poderosos sentimento a permear todo o espírito da humanidade: A vontade de se lançar ao mundo.
Ali, quando nos postamos em uma Marina, está o desconhecido. Uma enorme massa de um elemento estranho a nós, seres terrestres, mas familiar em um nível mais profundo, um grito ancestral de nossos antepassados peixes.
Pode perguntar a qualquer um. O que emociona em uma história? Situe-a no mar, na vastidão azul e poderosa, insubmissa à nossa vontade, mortal e plácida, e verá como tudo se altera. O mais banal dos causos se transforma em mito. Dali, do berço de Iemanjá, brotam os monstros, as sereias, os mundos fantásticos e as terras miraculosas. Ali, diante de seus olhos, está o caminho para Hi-Brasil, está a encarnação de nossos ódios e frustrações na forma de uma baleia branca, está nosso sonho de conquista em índias orientais e ocidentais, está nossa libertação das leis dos outros em barcos com bandeiras de ossos e espadas.
Ali, onde a Terra recebeu de seus filhos uma ponte para alcançar a imensidão que lhe faz par, onde o solo toca no fluido, o ser humano se faz outro. Ali, quando nossos olhos se tornam pequenos para abarcar toda a grandeza salgada e nossa imaginação faz ver todas as coisas e nenhuma, onde a vida começou e tem seu ápice, está nosso ímpeto de mudança. Está nosso mergulho no inconsciente, está nosso pulmão aquático para adentrar lugares invisíveis e sair metade peixe, metade sonho.
A Marina nos remete ao novo, ao lançar-se. Deixe-se ir com ela, e verá seu destino se multiplicar. Apenas observe dali o fluxo das ondas e as furiosas vagas, e sairá mudado. Dali, verá os olhos de Capitu, as curvas de Iemanjá, e as peraltices de Ondina. Poseidon acolhe aos que o respeitam, e sabe, quando fita o mar dali de onde saem os que farão a vida em outros mundos, a satisfação de ser sua uma enorme responsabilidade. A de aguardar a alma dos homens em seu ir e vir pelas vidas.